quinta-feira, 28 de julho de 2011

De Mário Viegas e outros poetas ...








- De Mário-Henrique Leiria

A Minha Querida Pátria


a pátria
os camões
os aviões
e os gagos-coutinhos
coitadinhos

a pátria
e os mesmos
aldrabões
recém-chegados
à democracia social
era fatal

a pátria
novos camões
na governança
liderando
as mesmas
confusões
continuando
mesmo assim
as velhas tradições
de mau latim
da Eneida

enfim
sabem que mais?
pois
vou da peida

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- De Pedro Oom

O Coelhinho Que Nasceu Numa Couve


       Era uma vez um coelhinho que nasceu numa couve.
      Como os pais do coelhinho nunca mais aparecessem a couve passou a cuidar dele como se do seu próprio filho se tratasse.
      Com ervinhas tenras que cresciam ao seu redor a couve foi criando o coelhinho dentro do seu seio até que este passou a procurar a sua própria alimentação.
      O coelhinho, que tinha um coração muito bondoso, retribuindo o afecto que a couve lhe dedicava, considerava-a como sua verdadeira mãe.
      A mãe couve e o seu filhinho adoptivo foram vivendo muito felizes até que um dia uma praga de gafanhotos se abateu sobre aquelas terras.
      O coelhinho ao ver que aqueles insectos vorazes devoravam tudo o que era verde cobriu com o seu próprio corpo o corpo da mãe couve e assim conseguiu que os gafanhotos pouco dano lhe fizessem.
      Quando aqueles insectos daninhos levantaram voo, os campos em volta passaram a ser um imenso deserto de areias e pedra.
      O pobre coelhinho, que sempre tinha vivido nas proximidades da sua mãe couve, teve de deslocar-se para muitos quilómetros de distância a fim de procurar comida.
      Mas já nada havia que se pudesse mastigar naquelas terras.
      Passaram muitos dias e o pobre coelhinho estava cada vez mais magro mais magro e faminto.
      Então a mãe couve disse-lhe assim:
      “Ouve meu filho: é a lei da vida que os velhos têm de dar o lugar aos novos, por isso só vejo ums solução: assim como tu viveste durante algum tempo no meu seio passarei a ser eu agora a viver dentro do teu. Compreendes, meu filho, o que eu quero dizer?”.
      O pobre coelhinho compreendeu e, embora com grande tristeza na alma não teve outro remédio, comeu a mãe.

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- De Joaquim Pessoa

Rimanço do País das Uvas


D. Mello e Mello e mais Mello
deu dois tiros na coutada.
“-Escapei por um cabelo!”
disse a perdiz desasada.

Dona Chuva miudinha
que caía em telha vã
viu a Bruxa malvadinha
envenenar a maçã.

Diz o rei: “-Abaixo o povo!”
Diz o povo: “-Abaixo o rei!”
Lá vem D. Fuas de novo
fazer respeitar a lei.

Traz uma trança comprida,
toda atada em noz moscada.
Grita: “-Antes nós do que nada …
Quem puder que salve a vida!”

E os lobos que andam à solta
toda a noite a dar ao dente
descem de serra e na volta
comem os olhos à gente.

Armandinlho vai à tropa
aprender a disparar
para salvar a Europa
de quem a quer devorar.

Com achas de pessegueiro
Juião acende o lume
para pôr no fugareiro
o caldeirão de ciúme.

Fechem as portas abertas
os cruzados nas campanhas.
Almoçam a horas certas.
Pagam o bife com senhas.

E as donzelas vão sorrindo
nas janelas da avenida
ao galã Dom Florindo
que já se vai de partida.

“-Porra, porra, meu senhor ...”
queixa-se um velho criado.
“Sempre a pedir por favor!
Sempre a dizer obrigado!”

E o amo que usava venda
na vista esquerda, coitado!,
vendeu depois a fazenda
os cavalos e o criado.

Mello e Fuas de Roupinho
com cama e roupa lavada
enchem a mula de vinho
e enguias de caldeirada.

E um pobre que passa à porta
pede um pedaço de pão.
Dizem-lhe: “-A coisa está torta.
Não se pode ser patrão!”

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- De Joaquim Namorado

Fábula


No tempo em que os animais falavam.
Liberdade!
Igualdade!
Fraternidade!

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- De Mário-Henrique Leiria

Rifão Quotidiano


Uma nêspera
estava na cama
deitada
muito calada
a ver
o que acontecia

chegou a Velha
e disse
olha uma nêspera
e zás comeu-a

é o que acontece
às nêsperas
que ficam deitadas
caladas
a esperar
o que acontece





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