Alternativas?!, Soluções?!, Respostas?!, ou o controlo do pensamento!
Momentos reveladores têm surgido desde as últimas eleições, e, aquando da “discussão” em torno do O. E..
1 - Enquanto o governo nos surpreendia diariamente com a divulgação de sucessivos PEC's e infindáveis medidas. Os media em laboriosa azáfama – convertidos em avançados laboratórios de biotecnologia – produziam fornada após fornada, de, bem sucedidos, ... clones.
Afinadas vozes (convém salientar) dum coro, de ilustres tenores, barítonos e sopranos (acompanhados por, não menos ilustres, instrumentistas), ecoaram em uníssono de Norte a Sul, anunciando-nos, a boa nova redentora de tal caminho!
Tal caminho, diziam-nos, tinha tanto de virtuoso como de inevitável – instâncias supremas exigiam-no. Essa era a atitude “responsável”. O apaziguamento dos seus insondáveis ímpetos impunha-o – podendo, nós, desta forma, aspirar à sua misericórdia e à redenção.
Assim. sucederam-se os PEC's, o O.E., a dança, ao ritmo do tango, aguardando nós, no final, um invejável lugar no Éden...
Houve vozes divergentes, ousaram afimar, a existência de caminhos diversos, e, de, propostas alternativas – mas não tiveram lugar no palco dos media (salvo alguma esquecida excepção).
(Correu publicamente uma petição pelo pluralismo de opinião no debate político e económico).
Os partidos de esquerda apresentaram (ao O.E.) um conjunto alargado de propostas alternativas (15 num caso, 20 noutro...), que não tiveram direito a discussão.
Algum alienígena, que nos observasse (e entendesse a nossa linguagem), seguramente acharia que algo de estranho se passaria – quando se passam centenas de horas a discutir as danças de 2 partidos e as “propostas” (ao O.E. do governo) do par de dança, que se resumem a saber se o IVA deveria aumentar 1 ou 2% (e pouco mais), e, as propostas restantes – mais completas, mais amplas e mais abrangentes – não merecem , pelos media e seus ilustres clones (15 minutos que seja de) discussão!
O nossp alienígena, pensaria, certamente, que algo de grave e de preocupante se passaria com estas sociedades...
Tem lugar um eficaz sistema de doutrinamento e de controlo do pensamento (citando Chomsky).
É claro que existem propostas alternativas – amplas e consistentes – mas elas, não cabem, no processo de doutrinamento do regime.
Uma das demonstrações da eficácia do funcionamento do processo de doutrinamento? - dias, semanas, meses, após a apresentação das alternativas; políticos e comentadores continuam a afirmar o caminho seguido como o único possível, que não existem outras soluções, ou que não se apresentam alternativas – e a mensagem passa sem estranheza e com uma naturalidade surprendente e estonteante...
2 – Em Outubro ou Novembro (2010), surge um documento da Associação Francesa de Economia Política, intitulado: “Manifesto dos economistas aterrorizados”, que coloca um conjunto de questões fundamentais, sobre a actual crise, a construção e a arquitetura europeias, e apresenta um conjunto alargado de propostas.
Também ele foi obliterado do debate público pelos media.
Permito-me, aqui, apresentar alguns (extensos) excertos (do referido “Manifesto”):
“...A Europa encontra-se aprisionada na sua própria armadilha constitucional [desde o Tratado de Maastricht] os Estados são obrigados a endividar-se nas instituições privadas que obtêm injecções de liquidez, a baixo custo, do Banco Central Europeu (BCE). Por conseguinte, os mercados têm em seu poder a chave do financiamento dos Estados.”,
“...A maior partes dos economistas que intervêm no debate públiico, fazem-no para justificar, ou racionalizar, a submissão das políticas às exigências dos mercados financeiros ..”,
“...Enquanto economistas … aterroriza-nos constatar que os fundamentos teóricos … dos argumentos utilizados à mais de 30 anos para orientar as opções das políticas económicas … não sejam postos em causa...”
“... a crise [não] é interpretada como o resultado lógico dos mercados desregulados ...”
“ ...um processo de “fedbacks positivos”, que agrava os desiquilíbrios. É a bolha especulativa: uma subida acumulada dos preços que se alimenta a si própria ...”
“O lugar preponderante que os mercados fianceiros ocupam … é uma fonte permanente de instabilidade ...”,
“[Proposta 1] Limitar … os mercados financeiros … proibindo os bancos de especular por conta própria, evitando assim a propagação das bolhas e dos colapsos.”
“... as agências de notação financeira contribuem … para determinar as taxas de juros nos mercados obrigacionistas, … contaminadas pela vontade de alimentar a instabilidade, fonte de lucros especulativos ...”,
“[Proposta 8b] Libertar os Estados da ameaça dos mercados financeiros, garantindo a compra de títulos da dívida pública pelo BCE”,
“...A explosão recente das dívidas públicas na Europa e no mundo deve-se … aos planos de salvamento do sector financeiro ...”,
“[Proposta 9] Efectuar uma auditoria pública das dívidas soberanas, de modo a determinar a sua origem ...”,
“Ao nível europeu, a financeirização da dívida pública encontra-se inscrita nos tratados: com Maastricht os Bancos Centrais ficaram proibidos de financiar directamente os Estados, que devem encontrar quem lhes conceda empréstimos nos mercados financeiros.
Esta “repressão financeira” … Trata-se de submeter os Estados … à disciplina dos mercados financeiros ...”,
“[Proposta 14] Autorizar o BCE a financiar os Estados …, a um juro reduzido, aliviando deste modo o cerco que lhes é imposto pelos mercados financeiros.”,
“A Europa foi construída, durante 3 décadas, a partir de uma base tecnocrática que excluiu as populações do debate de política económica ...”,
“É por isso que nos parece importante esboçar e debater, neste momento, as grandes linhas das políticas económicas alternativas, que tornarão possível esta refundação da construção europeia.”,
(Os sublinhados são da minha responsabilidade).
- O texto completo deste Manifesto poderá ser encontrado em arrastão.
É notável o empenho demonstrado, em impedir, a discussão das várias visões da Europa, e, das diferentes alternativas à sua construção; prosseguida pelos governos europeus. Governos esses, oriundos, das duas famílias políticas, a que pertencem os partidos que têm governado o país, à mais de 35 anos...
- Mais uma vez, é evidente, que existe um conjunto, de posições alternativas e de respostas, vasto e consistente, sobre a situação europeia – mas este é rejeitado do processo de “discussão”.
Pretende-se “mostrar”, não para debater os caminhos possíveis, mas para os esconder – o espaço público de discussão política é convertido em entretenimento de caserna, e, não, no da apresentação das alternativas, e, da promoção do esclarecimento.
As alternativas são excluídas do processo de “discussão”.
O sistema doutrinal é fortemente rejeccionista – ele determina e controla os limites da discussão possível.
É claro qu existem (outras) propostas e alternativas, mas estas são rejeitadas e lançadas para o útil poço da memória orwelliana (continuando com Chomsky).
Os media cumprem escrupulosamente o seu papel, no empenho da manufactura da engenharia do consenso (continuando ainda com Chomsky), em torno da aceitação das posições alternativas possíveis.
As ditaduras utilizam o cacete para controlar o pensamento, regimes não ditatoriais, utilizam formas mais subtis (ainda com Chomsky). São tão eficazes como o cacete? Bom, em 2005 o PSD-CDS perdeu o poder para uma maioria absoluta do PS, em 2010, algumas sondagens apontam uma derrota do PS, para uma maioria absoluta do PSD ….
Insanidade
Os “mercados” revelaram-se insaciáveis. Mensagens contraditórias e incongruentes eram (são) lançadas (antes, durante e após a “discussão” do O.E.); ora congratulando-se, e, exortandos os governos a prosseguir o caminho seguido, ora, ameaçando com a punição.
A confusão estava lançada e a pluralidade obliterada.
Os templos dos mercados revelam-se templos do absurdo.
A exortação à continuação não passa de uma exortação sacrificial.
A via que era (é) traçada não passava (passa), afinal, duma via sacra ao altar sacrificial, e, os políticos (assim como os comentadores do “sistema”), que a ele nos conduzem, os nossos carrascos!
No insaciável altar dos mercados é exigido sacrificio após sacrifício. A sua sede mostra-se incomensurável.
- A resposta dos mercados aos governos (com os seus intermináveis pacotes de austeridade, e, a sua incessante avalancha de cortes sociais), asssim como às vozes, que incansavelmente, ecoaram (e ecoam) nas capelas dos media?
- A 28/09 – altura da apresentação do PEC 3, os juros das obrigações (a 10 anos) atingiram um máximo de - 6,637%;
- A 15/10 – dia da apresentação do O.E. - juros das obrigações - 5,808%;
- A 01/11 - 1 dia após o acordo PS-PSD, que garantiu a aprovação do O.E - 6,191%;
- A 04/11 – Os juros atingem novo máximo histórico - 6,798%;
- A 11/11 – Os juros das obrigações continuam a sua trajectória ascendente e atingem novo máximo histórico - 7,035%;
- A 24/11 – após 3 PEC's e um O.E., os, insaciáveis, mercados respondem e os juros prosseguem a sua imparável trajectória e atingem novo máximo (histórico) - 7,059%;
- A 21/12 – (dia em que a Moody's voltou a ameaçar cortar o “rating”) o valor dos juros estava a - 6,525%.
E a saga continua, novos episódios estão anunciados ….
“O principal negócio da América é o negócio ...”
1 – Em alguns dos principais indicadores de desenvolvimento, os EUA, apresentam dos piores resultados, entre os países industrializados, como; taxa de mortalidade infantil e nº de mulheres que morre durante a gravidez, ou parto, por 100 000 nados-vivos (por exemplo).
(Em relação ao 1º caso é mais do dobro do valor de Portugal e em relação ao 2º é mais do triplo do valor de Portugal).
Isto essencialmente porque nos EUA a saúde é privada (situação única, aliás, entre os países “desenvolvidos”) - o país mais rico do mundo é incapaz de garantir um serviço de saúde público, de acesso universal e gratuito aos seus cidadãos.
(Reagan, o principal mentor deste sistema fê-lo em nome de obter “o melhor sistema de saúde, do mundo, para a América” !.…)
As companhias de seguros duplicaram, triplicaram os seus lucros em pouco tempo – à custa de negar cuidados de saúde aos cidadãos ...(clientes)!
A saúde na América é um, muito rentável, negócio.
Os seus técnicos e quadros são premiados e promovidos em função do nº de cuidados de saúde negados.
Na era (W.) Bush empresas de seguros de saúde pagaram centenas de milhões de $ a congressistas- (com Bush à cabeça, com cerca de 1 milhão), para elaborarem e aprovarem legislação (no interesse da indústria farmacêutica). Após a legislação ser aprovada, 14 adidos do congresso e congressistas – que trabalharam no decreto-lei - abandonaram o congresso e foram trabalhar para a indústria de saúde. Billy Tauzin (um dos principais congressistas envolvidos na Lei), abandonou o congresso e foi trabalhar para a indústia de saúde com um salário anual de vários milhões de $.
- O negócio da América é o negócio.
2 – Saltar da presidência, ou da administração, de bancos, ou de grandes empresas, para o governo e deste para aqueles – nada de mais natural.
Fraude, especulação, adulteração de contabilidade de empresas, manipulação de resultados (a troco de milhões); práticas correntes...
Especular na subida ou na queda de acções, apostar na subida ou na queda de empresas, na subida ou na queda de países – perfeitamente legítimo!
- O negócio da América é o negócio.
Na América a máfia financeira e as práticas mafiosas, são práticas perfeitamente legítimas e estão institucionalizadas.
É avassaladoramente revelador um documentário que passou recentemente pelas salas de cinema (uma ou duas creio).
- AIG, Fannie Mae e Freddie Mac, tinham as mais altas referências das, agora tão conhecidas, agências de “rating” Moody's e Standard & Poor's, que - dois dias antes de falirem e de serem resgatadas – lhes atribuíam as classificações máximas: AA e AAA.
- A Merrill Lynch dois dias antes da falência e do seu resgate, também tinha comprado classificação máxima – as referidas agências atribuíam-lhe: AAA.
(A Administração, deste gigantesco banco de investimentos, atribui-se em bónus (ou prémios) 3,6 mil milhões – valor este correspondendo a, 1/3 do dinheiro que recebeu do Banco Central (do estado) pelo seu resgate - bónus, como é espectável, pela sua competência e bons serviços prestados).(Os bónus, ou prémios, milionários ou multimilionários, foram aliás gerais nas mega-empresas falidas).
(As agências de "rating" quadruplicaram os seus lucros a classificar lixo tóxico como; AA e AAA).
- Permutas entre público e privado? – vulgar no outro lado do Atântico:
. Larry Summers
Economista chefe do Banco Mundial – 19991-1992,
Entrou para o poder político (pelas mãos de Clinton), como Secretário do Tesouro Americano – 1999-2001,
Presidente da Universikdade de Harvard – 2001-2006,
Voltou para o governo, como “Director do Concelho Económico Nacional” - 2009-2010 (com Obama - sendo um dos seus principais acessores).
É ainda, simultaneamente, gestor (em part-time) de uma “hedge fund”, de uma firma “D. E. Show & Co.”, de onde recebeu largos milhões...
Nos cargos privados (B. M. e Univ. Harvard), defendeu a desregulamentação financeira, mais tarde no governo de Clinton, como Secretário do Tesouro, implementou essas medidas.
. Henry Pawlson
Administrador e presidente do Grupo Goldman Sachs (banco de investimentos) de 1998-2006,
Ingressou no governo, como Secretário do Tesouro dos EUA – 2006-2009 (pelas mãos de Bush),
- Robert Rubin
(Outro) Administrador e presidente do grupo Goldman Sachs – 1990-1992,
“Saltou” para o governo como - “Director do Conselho Económico Nacional” - 1993-1995,
Continuou, no governo, como Secretário do Tesouro de 1995-1999 (com Clinton) – onde defendeu a lei que tornou legal a criação do Citigroup,
Em 2007 torna-se Administrador do Citigroup (“chairman”).
- Professores de escolas de Gestão e de Economia recebem centenas de milhar, ou milhões, para fornecerem pareceres, como consultores, ou administradores de empresas, ou de agências financeiras, são pagos a peso de ouro em conferências, principalmente para agências financeiras (um dos casos mais célebres é o de Larry Summers).
- Incompatibilidades, conflitos de interesses – são palavras desconhecidas.
(A indústria financeira gastou entre 1998 e 2008, em lobbies e apoios a campanhas políticas; 5 000 milhões).
- O negócio da América é o negócio!
3 – A Islândia, após integrar o espaço económico europeu, privatizou os 3 principais bancos – privatização acompanhada da respectiva desregulamentação do sector financeiro – tendo-se seguido uma gigantesca bolha (o valor das suas acções chegou a subir cerca de 800%).
Os bancos trataram de comprar pareceres positivos (actividade tanto corrente, como fácil - a procura e a oferta é elevada) - um dos quais, a um ilustre professor na Escola de Administração de Empresas da Universidade de Colúmbia. Neste, teciam-se grandes elogios ao sistema de “regulação” bancário islandês; “os bancos, são fortes, bem geridos ...”
. As agências de “rating”, antes das falências, atribuiam-lhes (aos referidos bancos) classificação máxima: AAA.
(1/3 dos reguladores financeiros foi trabalhar para os bancos).
Até que a bolha rebentou – atirando os bancos para a bancarrota (e levando o país ao descalabro).
Este foi, um exemplo, revelador, do resultado, da tão proclamada “auto-regulação” dos mercados, defendida pelos neo-liberais à mais de 25 anos …
A Islândia - país que tinha excelentes indicadores de desenvolvimento (dos melhores do mundo, e, com uma população com níveis de vida ´”invejáveis” (mesmo entre os países “desenvolvidos”)) – é estilhaçada!
O cocktail; negócios/politica/teóricos-académicos-do-sistema, servido nos salões dos palácios governamentais e nos gabinetes privados das grandes instituições; não passa de veneno tóxico!
O que diferencia estas práticas das do sub-mundo criminoso na China, Bogotá, ou Colômbia; é a sua licitude.
A máfia financeira não corre o risco das rusgas e de prisão, que correm os falsificadores da Louis Vuitton, da Rolex, ou os traficantes de droga.
O seu negócio é mais seguro do que o mercado negro da droga ou o da contrafacção.
A máfia financeira ganha biliões, leva empresas e países à falência, provoca o sofrimento em milhões e é recompensada!
Escrúpulos, incompatibilidades, conflitos de interesses, são palavras inexistentes no léxico deste (es) mundo (os)...
- Vivemos em regimes fechados de interesses intercomunicantes – que visam a auto-perpectuação!
(São excluídas aqui as relações com as indústrias de armamento e de petróleo...).
- Calvin Coolidge, presidente dos EUA de 1923 a 1929 (opositor de qualquer regulamentação) – que por acaso estava incluído numa lista de clientes preferenciais para acções – tinha como slogan;
“O principal negócio da América é o negócio”.
- A máfia afirma só conhecer 3 palavras; “negócio, negócio e negócio”.
- Apetece utilizar a velha frase anarquista; “as putas ao poder que os filhos já lá estão”.
- Paz às nossas almas!!!..