segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

O Reverendo

 





O Encoberto



Perdido há séculos na bruma, emerge finalmente do nevoeiro para cumprir Portugal.

O divino traçara-lhe o salvífico destino – ali mesmo – na pia baptismal ao atribuir-lhe tão bem-aventurado nome. Sem réstia de dúvida este predestinava-o a grandes feitos.

Por terras lusas, já o sapateiro de Trancoso o profetizara há 5 séculos.

O divino – confessa-nos a encarnação de Quibir – surgiu-lhe, falou-lhe e revelou-lhe a missão: mudar e salvar Portugal!

A matéria que tem corrompido a grandiosidade nacional urge ser amputada sem demora e sem sombra de misericórdia.

O país tem que ser resgatado e devolvido à grandeza e glórias passadas – de séculos. Quanto antes!



O prosaico



1 – Internamente, para tal, mobilizará os humilhados, os ofendidos, os esquecidos. 

Estes acorrerão, aos magotes, dos bairros (periféricos), das praças, dos subúrbios de toda a nação, que, sem descanso; enclausurarão, castrarão, enforcarão, perseguirão sem tréguas todo e qualquer prevaricador. (Entre eles encontrar-se-ão, por certo, os candidatos a futuros camisas negras, castanhas ou de uma qualquer outra cor)

Já é tempo de alguém pôr ordem e limpar o pântano!


2 – Externamente, virão, sem dúvida, em seu auxílio as forças anti-corrupção internacionais; Orbán, Le Pen, Salvini, os “identitários” (austríacos, franceses, italianos, alemães, …), “supremacistas brancos” de  latitudes várias, skinheads onde quer que estejam (Bolsonaro, acompanhado dos esqueletos da ditadura militar brasileira, marcará também presença) ...

Assim como as – infatigáveis e indispensáveis – forças paramilitares ucranianas. Estas frescas dos campos de treino militar espalhados por toda a Ucrânia, que além de possuírem o treino militar dos campos têm ainda a - preciosa - prática do combate sem tréguas à “escumalha judaica, comunista e russa” no Leste e  Sul do país.

Marcarão, sem dúvida, presença; Tyahnybok e o Svoboda, Yarosh e o Right Sector, o batalhão Azov, o batalhão Aidar  (e outras dezenas de “batalhões” paramilitares existentes na Ucrânia pós-golpe).

Trazem, eles, até ao extremo ocidental do continente a tão esperada “Reconquista da Europa”. 


3 – É claro que a sua principal pretensão é colocar-se no púlpito nacional e ter à sua frente hordas de fervorosos seguidores e idólatras batendo no peito em fervorosos êxtases místicos. 

Parece também claro que os seus lineares brados ecoam em muita gente e são eco de muita gente. Uns ansiosos por ordem, músculo e autoridade, outros por crucificar e queimar bodes expiatórios  - origem dos males do mundo e dos seus ...

É destituído  de programa, de ideias e de substância - o seu projecto; o alimento do ego, a auto-satisfação, a idolatria … 



- Pois, que venha a “Reconquista da Europa”. (talvez o SARS-CoV-2 e o divino ajudem).