A trágica e pífia linearidade de Assis!
A 10 de Março último, no debate, na A. R.;
À argumentação política, o PS (com Assis e Sócrates destacados) respondeu (responderam), com a provocação gratuita e rasteira.
À censura política responderam com a artilharia intimidatória, dos derrotados políticos e da história;
Os protagonistas da política do abismo,
Os coveiros dos direitos sociais.
Assis, falou até à exaustão “duma esquerda que tem que por nós ser combatida” (tendo, certamente, batido o recorde da quantidade de epítetos por unidade de tempo).
Revelou-se preocupado com “a manipulação da rua contra o parlamento e as instituições da nossa democracia”.
Acenando-nos mesmo com fantasmas passados.
Renato Sampaio, deputado e dirigente do PS, em comentários televisivos (a 10/03 – a propósito do discurso de Cavaco), dizia-nos que “a democracia e a legitimidade discute-se em eleições, não é em manifestações de rua”.
Não é difícil perceber o motivo de tais preocupações;
Não vá a indignação tomar conta das ruas, e, o regime estremecer – pondo em causa os cargos e os interesses...
Não vá a rua, fazer das suas. Como fez no Egipto e na Tunísia, derrubando os ditadores “socialistas” (e membros da “Internacional Socialista”); Mubarak e Ben Ali.
É na imprevisibilidade das ruas - assim como na imprevisibilidade da história - que reside o seu receio.
Não paira, portanto, senão o vazio, sobre as expressões de Assis (e de outros) como ; “esquerda democrática”, “esquerda moderna”, “esquerda responsável”, etc...
Querem-nos previsíveis e domésticos.
Querem-nos domesticados e curvados – prontos para a penetração, sem lamento nem protesto.
Falam de “linguagem imprópria” - argumento risível, vindo de quem (mais do que ninguém anteriormente), tem transformado, nos últimos anos, o insulto em argumento político.
Da “linguagem imprópria”, à propriedade da linguagem...
-Em nome de Almada;
…
“Tu, que te dizes Homem!
Tu, que te alfaiatas em modas
e fazes cartazes dos fatos que vestes
pr'a que se não vejam as nódoas de baixo!
…
O Século-dos-Séculos virá um dia
e a burguesia será escravatura
se for capaz de sair de Cavalgadura!
…
Olha Hugo! Olha Zola, Cervantes e Camões,
e outros que não são nada por te cantarem a ti!
Olha Nietzche! Wilde! Olha Rimbaud e Dowson!
Cesário, Antero e outros tantos mundos!
Beethoven, Wagner e outros tantos génios
que não fizeram nada,
que deixaram este mundo tal qual!
Olha os grandes que são estragados por ti!
O teu máximo é ser besta e ter bigodes.
A questão é estar instalado.
Se te livras de burguês e sobes a talento, a génio,
a seres alguém,
o Bem que fizeres é um décimo de seres fera!
…
Desata o nó-cego da vista!
Desilustra-te, descultiva-te, despole-te,
que mais vale ser animal que besta!
Deixa antes crescer os cornos que outros adornos da
Civilização!
…
Galopa a tua bestialidade
na memória que eu faço dos teus coices,
cavalga o teu insecticismo na tua sela de D. Duarte!
Arreia-te de Bom-Senso um segundo! Peço-te de joelhos.
Encabresta-te de Humanidade
e eu passo-te uma zoologia para as mãos
p'ra te inscreveres da divisão dos Mamíferos.
Mas anda primeiro ao Jardim Zoológico!
Vem ver os chimpazés!
Acorpanzila-te neles se te ousas!
Sagra-te de cu-azul a ver se eles te querem!
Lá porque aprendeste a andar de mãos no ar
não quer dizer que sejas mais chimpanzé que eles!
…
vê só o que os olhos virem,
cheira os cheiros da Terra
come o que a Terra der,
bebe dos rios e dos mares,
-põe-te na Natureza!
Ouve a Terra, Escuta-A.
…”
-E de Cesariny;
...
“Paro um pouco a enrolar o meu cigarro (chove)
e vejo um gato branco à janela de um prédio bastante alto...
Penso que a questão é esta: a gente – certa gente – sai para a rua,
cansa-se, morre todas as manhãs sem proveito nem glória
e há gatos brancos à janela de prédios bastante altos!
Contudo e já agora penso
que os gatos são os únicos burgueses
com quem ainda é possível pactuar -
vêem com tal desprezo esta sociedade capitalista!
Servem-se dela, mas do alto, desdenhando-a …
Não, a probabilidade do dinheiro ainda não estragou inteiramente o gato
mas de gato para cima – nem pensar nisso é bom!
...”
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