domingo, 10 de janeiro de 2016

Naufrágio









Diluo-me,
a cor a forma a substância
fundem-se

liquefeito,
escorro
pelo rugoso soalho
aleatório
espalho-me
informe,
preencho cada
reentrância
salto cada
saliência

ondulo,
ao ritmo
descoordenado
do contentor

molécula a molécula
a amálgama
é sugada
pelas porosas paredes em volta,
alastro

reencontrada,
cada gota
acelerada tomba
expludo a cada embate,
fragmento-me

partículas mil
em redor
são projectadas,
estilhaçam-se

no exterior,
a tempestade uiva
os silvos
as ondas,
fustigam
os mastros
oscilam
em direcções múltiplas,
desordenados
rangem

outrora velas
os farrapos
são sacudidos,
violentos

contorcido,
o casco
quebra-se
doloroso

longos,
inaudíveis
gemidos
perdem-se
em redor
inúteis

a tormenta
incessante
de vaga em vaga
lança os escombros

despedaçado
nos oceanos infindos

longe
os destroços

flutuam …

alastram ...








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