(divulgação)
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23/8/2014, [*] Mike Whitney (transcrição e comentários), Information Clearing House
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Quem queira compreender o que se passa na Ucrânia, não pode deixar de assistir ao vídeo (com legendas em inglês), 15 minutos, em que Sergei Glaziev, [1] conselheiro e amigo de Putin, explica como mudanças estruturais na economia global e uma deriva em direção à Ásia precipitaram uma desesperada tentativa, por políticos norte-americanos, para manter-se no controle do mundo, instigando uma guerra na Europa.
Concordem ou não com o analista e a análise, os leitores verão/ouvirão analista brilhante, erudito e apaixonado em suas crenças. Só por isso já valeria assistir à entrevista de Glaziev.
Fiz eu mesmo uma transcrição do vídeo, e peço desculpas por algum erro não intencional no texto. Também introduzi, eu mesmo, a “itemização” e os negritos que se veêm na transcrição.
1. Mudanças Estruturais na Economia Global são frequentemente precedidas por Grandes Crises e Guerra
O
mundo hoje passa por uma superposição de séries inteiras de crises
cíclicas. A mais séria delas é uma crise tecnológica que é associada a
mudanças nos comprimentos de onda do desenvolvimento econômico. Vivemos
num período em que a economia está mudando de estrutura. A estrutura
econômica que comandou o crescimento econômico nos últimos 30 anos
exauriu-se. Temos de fazer uma transição para um novo sistema de
tecnologias. Esse tipo de transição, infelizmente, sempre aconteceu
mediante guerra.
Foi
o que aconteceu nos anos 1930s, quando a Grande Depressão deu lugar à
corrida armamentista e, na sequência, à IIª Guerra Mundial. Foi assim
durante a Guerra Fria, quando uma corrida armamentista cedeu lugar a
complexas tecnologias de informação e comunicação que se tornaram a base
da estrutura tecnológica que vem comandando a economia mundial nos
últimos 30 anos. Hoje, enfrentamos crise similar. O mundo está mudando
para um novo sistema tecnológico.
2. Putin promove a Zona de Livre Comércio, para facilitar a transição para a Nova Economia Global
O
novo sistema tem natureza humanitária e, assim, pode evitar uma guerra,
porque os grandes geradores de crescimento nesse comprimento de onda
são tecnologias humanitária. Dentre essas, as indústrias de atenção à
saúde e de medicamentos, que são baseadas na biotecnologia. Incluem-se
aí também tecnologias de comunicação baseadas na nanotecnologia, que
está mudando o mundo como o conhecemos. Todas essas mudanças envolvem
tecnologias cognitivas, que definem um novo contexto para o conhecimento
humano.
Como
o presidente Putin tem dito repetidas vezes, conseguimos construir e
propor um programa de desenvolvimento conjunto, uma zona de
desenvolvimento para todos com um regime comercial preferencial de
Lisboa a Vladivostok. Para fazê-lo operar, basta acertar com Bruxelas os
termos para criar um espaço econômico comum, uma área de
desenvolvimento comum. Podemos propor número suficiente de projetos
novos, do campo da saúde à proteção contra ameaças espaciais, para
mobilizar nosso potencial científico e técnico e criar demanda estável, a
partir do estado. Assim se daria forte estímulo ao novo sistema
tecnológico.
3. Washington vê uma Guerra na Europa como melhor meio para Preservar sua Hegemonia
Os
EUA, contudo, já estão fazendo o que fazem sempre. Para manter sua
dominância sobre o mundo, estão provocando nova guerra na Europa. Guerra
é sempre bom negócio para os EUA. Dizem até que a IIª Guerra Mundial,
que matou 50 milhões de pessoas na Europa e na Rússia, teria sido uma
boa guerra. Foi boa para os EUA, porque os EUA emergiram daquela guerra
como principal potência mundial. A Guerra Fria, que terminou com o fim
da União Soviética, também foi boa guerra, para os EUA.
Agora,
os EUA outra vez querem manter sua liderança à custa da Europa. A
liderança dos EUA está sendo ameaçada pela China, que cresce sem parar. E
o mundo está entrando em novo ciclo que, agora, é ciclo político. Esse
ciclo dura séculos e está associado com as instituições globais da
economia regulatória.
Agora
nos movemos, do ciclo norte-americano de acumulação de capital, para um
ciclo asiático. É outra crise que desafia a hegemonia dos EUA. Para
manter sua posição de comando frente à concorrência que lhe impõe uma
China que não para de crescer e outros países asiáticos, os EUA estão
inventando uma nova guerra na Europa. Querem enfraquecer a Europa,
rachar a Rússia, e subjugar todo o continente eurasiano.
É
o mesmo que dizer que, em vez de uma zona de desenvolvimento para todos
de Lisboa a Vladivostok – que é a proposta do presidente Putin – os EUA
querem iniciar uma guerra caótica e alucinada nesse mesmo território,
envolver toda a Europa numa só guerra, desvalorizar os capitais
europeus, cancelar por milagre a dívida pública nos EUA, dívida sob cujo
peso os EUA, sim, já estão praticamente sucumbindo, riscar do mundo o
que os EUA devem a Europa e Rússia, subjugar nosso espaço econômico e
estabelecer controle sobre os recursos do gigantesco continente
eurasiano. Para os EUA, esse seria o único modo para conseguirem manter
sua hegemonia e derrotar a China.
Infelizmente
a geopolítica dos EUA que vemos hoje é exatamente idêntica à do século
XIX. Eles ainda pensam nos termos das lutas geopolíticas do Império
Britânico: dividir para conquistar. Lançar nações contra nações,
empurrá-las umas contra outras, iniciar uma guerra mundial.
Desgraçadamente, os EUA ainda insistem naquela velha política britânica,
para tentar resolver seus problemas. A Rússia é o alvo selecionado
dessa política, e o povo ucraniano é usado como bucha de canhão numa
nova guerra mundial.
Primeiro,
os EUA decidiram tomar como alvo a Ucrânia e separá-la da Rússia. É
tática inventada por Bismarck. É a velha tradição anti-Rússia, com o
objetivo de envolver a Rússia em conflito, para conseguir tomar conta de
todo o espaço da Eurásia. Foi estratégia que Bismark usou, depois
adotada pelos britânicos, depois por Zbigniew Brzezinski, pensador e
cientista político norte-americano que disse incontáveis vezes que a
Rússia não poderia ser uma superpotência sem a Ucrânia, e que criar
guerra entre Rússia e Ucrânia seria benéfico [sic] para os EUA e o
Ocidente.
Há 20 anos os norte-americanos alimentam o nazismo ucraniano orientado contra a Rússia.
Todos
sabem que os EUA hospedaram os seguidores remanescentes de Bandera
(Stepan), depois da IIª Guerra Mundial. Dezenas de milhares de nazistas
ucranianos foram levados para os EUA e cuidadosamente cevados e
treinados durante o pós-guerra. Essa leva de imigrantes desceu sobre a
Ucrânia depois do colapso da União Soviética. A ideia de uma parceria
ocidental foi usada como isca. Quem primeiro falou disso foram os
poloneses; na sequência, os EUA abraçaram a ideia. Essa é a essência da
parceria ocidental, da qual a Geórgia foi a primeira vítima.
Agora, a nova vítima está sendo a Ucrânia, e depois virá a vez da Moldávia, para ir cortando laços com a Rússia.
Todos
sabem que a Rússia estamos construindo a União Aduaneira e um espaço
econômico comum com Bielorrússia e Cazaquistão, ao qual serão
integrados, na sequência, o Quirguistão e a Armênia. A Ucrânia sempre
foi nação parceira dos russos, há muito tempo. A Ucrânia continua a ter
um acordo comercial com a Rússia, que está em fase de ratificação – e
que até hoje não foi cancelado por ninguém na Ucrânia. A Ucrânia é
importante para nós como parte de nosso espaço econômico e por séculos
de laços e cooperação entre nossos países.
Nosso
complexo científico e industrial foi criado como realidade comum. Daí
que a participação da Ucrânia na integração da Europa seja processo
vital e natural. Mas o projeto da “parceria ocidental” foi inventado
para impedir que a Ucrânia participasse no projeto de integração da
Eurásia. O significado da parceria ocidental é criar uma associação com a
União Europeia – e “boicotar” a integração da Eurásia.
Qual
a associação que Poroshenko assinou com líderes europeus? Uma
“associação” que converte a Ucrânia em colônia. Por aquele acordo de
associação com a União Europeia, a Ucrânia perde até a própria
soberania: transfere para Bruxelas o controle do próprio comércio,
aduana, regulação técnica e financeira e até a representação pública.
4. A junta nazista ucraniana é instrumento da política dos EUA
Ucrânia
deixa de ser estado soberano na economia e na política: está claramente
escrito e assinado no acordo, que a Ucrânia converte-se em parceiro
“júnior” na União Europeia. A Ucrânia compromete-se a seguir uma defesa
comum e a política exterior da União Europeia. A Ucrânia fica obrigada a
participar na resolução de conflitos regionais, sempre sob a liderança
da União Europeia. E assim Poroshenko está convertendo a Ucrânia em
colônia da União Europeia e empurrando a Ucrânia para uma guerra contra a
Rússia como bucha de canhão, com a intenção de, assim, iniciar uma
guerra na Europa.
O
objetivo do acordo de associação é permitir que países europeus
governem a Ucrânia sempre que se tratar de decidir conflitos regionais. É
o que está acontecendo no Donbass, que é conflito regional armado. O
objetivo da política dos EUA é criar o maior número possível de mortos. A
junta nazista que governa a Ucrânia é instrumento dessa política dos
EUA. Estão cometendo atrocidades inimagináveis e crimes sem conta,
bombardeando cidade, matando civis, mulheres e crianças, e forçando-os a
abandonar as próprias casas, exclusivamente para provocar a Rússia e,
na sequência, lançar toda a Europa numa mesma grande guerra. Essa é a
missão de que Poroshenko foi encarregado.
Por
isso, precisamente, é que Poroshenko rejeita todas e quaisquer
negociações de paz e bloqueia todos e quaisquer acordos de paz. Cada
“declaração” de Washington sobre qualquer “desescalada” no conflito é
decodificada, por Poroshenko, como ordem para escalar o conflito. Cada
rodada de conversações chamadas “de paz” desencadearam nova rodada de
violência.
É
preciso compreender que estamos lidando com um estado nazista, que está
determinado a conseguir entrar em guerra contra a Rússia e que já
decretou recrutamento universal obrigatório. Toda a população do sexo
masculino entre 18 e 55 anos de idade foi automaticamente alistada. Quem
se recusar ao alistamento, receberá pena de 15 anos de cadeia. Esse
poder nazista criminoso já converteu em criminosos toda a população
ucraniana.
5. Washington trabalha a favor de seus Interesses, quando empurra a Europa para a Guerra
Calculamos
que a economia europeia perderá cerca de 1 trilhão de Euros por causa
das sanções que os norte-americanos impuseram contra os europeus. É
muito dinheiro. Os europeus já começam a sentir as perdas. Já houve
acentuada redução nas vendas para a Rússia. A Alemanha está perdendo
cerca de 200 bilhões de Euros. Os estados do Báltico sofrerão as maiores
perdas. A perda de vendas na Estônia será superior ao PIB do país. Na
Letônia, será equivalente a metade do PIB do país. Mas nem isso os
detêm. Políticos europeus seguem os norte-americanos sem nem questionar o
que estão fazendo. E agridem-se eles mesmos, ao provocar o nazismo e a
guerra.
Já
disse que Rússia e Ucrânia são vítimas dessa guerra que está sendo
fomentada pelos EUA. Mas a Europa também é vítima, porque a guerra visa a
destruir o estado de bem-estar europeu [o que reste dele] e a
desestabilizar a Europa. Os norte-americanos contam com que, assim,
prosseguirá o êxodo de capitais e cérebros europeus para os EUA. Por
isso estão incendiando a Europa inteira. É muito estranho que governos
europeus estejam alinhados com esse tipo de “projeto” mortal dos EUA.
6. A Alemanha ainda é Território Ocupado
Não
podemos continuar a simplesmente esperar que os líderes europeus
desenvolvam política independente: temos de trabalhar com políticos
europeus de outra geração, capaz de manter-se independente do diktat dos
EUA. Fato é que nos anos da Guerra Fria formou-se na Europa uma elite
política obcecadamente antissoviética. E esses rapidamente se
converteram em anti-Rússia. Apesar da expansão dramática de laços
econômicos e dos vastíssimos interesses econômicos mútuos entre Europa e
Rússia, a russofobia ainda é baseada em antissovietismo e sobrevive na
mente de muitos políticos europeus. Será preciso esperar que uma nova
geração de políticos europeus pragmáticos compreenda quais são seus
reais interesses nacionais.
O
que vemos hoje na Europa são políticos que agem contra os seus próprios
interesses nacionais. Isso se explica em grande parte pelo fato de que a
Alemanha, que é o motor do crescimento da Europa ainda é país ocupado.
Ainda há tropas norte-americanas na Alemanha, e cada chanceler alemão
ainda é obrigado a jurar fidelidade aos EUA e àquela política externa. A
geração de políticos que ainda está no poder na Europa ainda não
conseguiu livrar-se do cabresto da ocupação pelos EUA.
7. O nazismo está em ascensão
Embora
já não haja União Soviética, aqueles políticos europeus continuam a
obedecer Washington maniacamente, na expansão da OTAN e na tentativa de
capturar novos territórios – por mais “alérgicos” que já sejam aos novos
membros orientais da União Europeia.
A
União Europeia já está estourando nas costuras, mas nem por isso
suspende a agressiva expansão na direção de território pós-soviético.
Espero que uma próxima geração de políticos seja mais pragmática.
As
recentes eleições para o Parlamento Europeu mostraram que nem todos
estão sendo completamente enganados pela propaganda pró-EUA e
anti-Rússia, e pelo fluxo ininterrupto de mentiras que não para de ser
lançado contra o povo europeu. Partidos europeus tradicionais perderam
em recentes eleições no Europarlamento.
Quanto
mais se diga a verdade, maior será a reação, porque o que está
acontecendo na Ucrânia é o renascimento do nazismo. A Europa conhece bem
e não esqueceu os sinais do renascimento do nazismo, por causa das
lições da IIª Guerra Mundial. Temos de despertar essa memória histórica,
de modo que consigam ver nos nazistas ucranianos que estão no governo
em Kiev, os seguidores de Bandera, Shukhevych e outros colaboradores
nazistas. A ideologia das atuais autoridades ucranianas tem raízes na
ideologia dos cúmplices de Hitler que atiraram contra judeus em Babi
Yar, queimaram vivos ucranianos e bielorrussos e aniquilaram populações
inteiras sem distinção de etnias. Esse é o nazismo que está em
crescimento hoje.
Os europeus têm de reconhecer nos mortos na Ucrânia mortos europeus. É disso, afinal, que se trata.
Espero que, se continuarmos a explicar a verdade, conseguiremos salvar a Europa de mais essa ameaça de guerra.
Mike Whitney
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Nota dos tradutores
[1] Sobre Sergey Glaziev ver também: 2/8/2014, “Para pôr fim às guerras dos EUA em todo o planeta: Assessor de Putin propõe Aliança Antidólar”.
[*] Mike Whitney é
um escritor e jornalista norte-americano que dirige sua própria empresa
de paisagismo em Snohomish (área de Seattle), WA, EUA. Trabalha
regulamente como articulista freelance nos últimos 7 anos. Em 2006 recebeu o premio Project Censored por uma reportagem investigativa sobre a Operation FALCON,
um massiva, silenciosa e criminosa operação articulada pela
administração Bush (filho) que visava concentrar mais poder na
presidência dos EUA. Escreve regularmente emCounterpunch, Information Clearing House e vários outros sites. É co-autor do livro Hopeless: Barack Obama and the Politics of Illusion (AK Press) o qual também está disponível em Kindle edition.
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