(4ª Feira - 22/06/2011 (18:32) - Com algumas correcções a 27/06/2011)
Embora só tenha lido o artigo “Como o Bloco chegou à hora da verdade” à apenas umas horas, uma limitação minha acrescento, talvez explicada por alguma resistência pessoal (consciente ou inconsciente), ao que eventualmente poderia encontrar – senti-me compelido, mais ou menos de forma irresistível, a escrever algo - embora de forma preliminar e reservando-me o direito a posteriormente desenvolver, ou clarificar algo (ou algum erro ou imprecisão), agora escrito.
- Resumindo; cito algumas passagens (seguindo a ordem apresentada no texto), que me pareceram numa primeira leitura as mais significativas, e teço algumas considerações ou manifesto algumas opiniões. (Isto transforma inteligível, o que se segue, apenas a quem leu ou ler o referido artigo).
1 - “Resumir o Bloco a uma aliança de grupos de extrema-esquerda não é apenas uma caricatura.” .
. Ora, “uma aliança de grupos de extrema-esquerda” , não é suficiente – para resumir o Bloco – mas é necessária. (Diria que esta é a 1ª tendência, ou opinião, manifestada).
2 - “Mas as principais figuras fundadoras do partido mantiveram as rédeas do poder por demasiado tempo ...”
. Parece-me (a quem nunca teve alguma ligação ao poder – do partido – como é o meu caso pessoal, apenas “ligacões” várias, e divergiu em alguns momentos de posições ou medidas tomadas …), uma afirmação insultuosa – deliberadamente insultuosa .
. Pois parece-me óbvio que foram “as principais figuras fundadoras do partido” - eleitas em cada convenção – assim como outros membros ou aderentes, quem conduziu o B E desde 1998 a 2009, de 0 deputados a 16.
. Não me parece, aqui, descabido relembrar:
.. Eleições legislativas de:
.. 1999 – 2 deputados (2,44%),
.. 2002 – 3 deputados (2,74%),
.. 2005 – 8 deputados (6,35%),
.. 2009 – 16 deputados (9,82%).
(O resultado e a descida nas últimas eleições - e as circunstâncias em que ocorreu – justificam só por si um artigo específico (que certamente surgirá)).
.. Não refiro resultados das presidenciais – pela sua especificidade. E que, penso, que serviram como oportunidades do B E, de divulgar posições e apresentar propostas – além dos objectivos mais óbvios …
.. Nem resultados das autárquicas, pelo mesmo motivo (estas com especificidades várias e complexas (seria necessário falar de fenómenos como; Fátima Felgueiras, Isaltino Morais, etc, etc...)).
3 - “Mudar de dirigentes é da natureza dos partidos. E isso acontecer num novo ciclo, que é marcado quase sempre por uma derrota, é o mais natural dos acontecimentos”.
. Parece-me, também, ser natural as “mudanças de dirigentes nos partidos”, ocorrer em eleições (internas) nos mesmos.
. E tanto quanto sei, não só qualquer pode concorrer a dirigente do (e no) B E – como tal possibilidade ocorreu, já, 6 ou 7 vezes, na história do B E (uma em cada convenção).
. A ideia que, parece, estar subjacente é a de 1 apelo à demissão de membros (dirigentes) – a uma “limpeza” no B E (por outras palavras) em nome da “mudança” …
4 - “... o Bloco acaba muitas vezes por se limitar a ser um partido 'megafone'”.
. Quanto “a ser 1 partido megafone” - não sei, creio que ignoro o significado. Mas posso afirmar que acredito, que, o B E, não é 1 partido que exista, e viva, de truques e malabarismos, à semelhança dos 3 maiores partidos.
. Tendo pautado a sua postuta (tanto em eleições, como fora delas), pela verticalidade, pela justeza de posições (na minha opinião, obviamente), pela apresentação de propostas (alternativas) – tanto abrangentes, como consistentes. Sendo estas “heroicamente”, e, sucessivamente, ignoradas pelos media e o seu ilustre lote de comentadores (esta afirmação tanto é válida em relação ao B E como ao P C) – transformando, aqueles, o espaço público de discussão política, em entretenimento de caserna. E, não no da apresentação das alternativas (em cada momento), e, da promoção do esclarecimento.
Numa atitude rejeccionista, lançando – essas propostas – para o caixote do lixo da memória orwelliana.
5 - “O que aconteceu depois, sabe-se. Pressionado pela má-consciência do apoio a Alegre e pela possibilidade do PCP se antecipar, a direção do Bloco entrou em versão pavloviana e decidiu avançar para uma moção de censura ...”.
. Quanto à moção de censura ser “uma versão pavloviana, pressionada pela má-consciência do apoio a Alegre e pela possibilidade do PCP se antecipar” - nada tenho a dizer …
. Quanto à afirmação de a moção de censura “(que parecia 1 ziguezague)” - devo dizer que é a 1ª afirmação (das que me pareceram pertinentes, aqui, salientar), com que, no essencial concordo.
. Eu diria que a apresentação, inicial, da moção foi; titubeante, exitante (inicialmente) – talvez, fruto de alguma hesitação e alguma incerteza.
. Quanto à conclusão, de que com a moção de censura “começa a vir por aí abaixo ...”.
. Eu pergunto;
.. Será que começou?,
.. E exatamente com a moção de censura?.
. Eu diria que quem isto escreve foi 1 acérrimo (e público) crítico da mesma (por abrir o caminho à direita, ou ao PSD, etc, - “cito de cor”).
. Não me parece haver aqui objectividade – apenas uma opinião, ou uma crítica, tendenciosa; de alguém que a ela se opôs clara e acerrimamente ( 1 direito seu, obviamente).
- Mas quanto ao que se segiu, devo dizer que tenho como opinião, algo de muito diferente.
. Eu, e falo obviamente em meu nome, senti que o B E estava a “despertar”, de algum período de adormecimento, de apagamento …
. O B E, surge (finalmente, diria, a dar sinal de vida), a apresentar (e a reapresentar), 1 conjunto vasto de propostas, de soluções políticas e económicas – muitas das quais tinham sido apresentadas, aquando do O E, e, absolutamente ignoradas. Depois de 1 O E e PEC's apresentados, pelo governo e aprovados pelo PS, PSD e CDS, ou, pelo PS e PSD – com avalanchas de cortes sociais e medidas, que, iam conduzindo o país, semana após semana à recessão e ao abismo – sem, como era espectável, nunca “acalmarem”, “tranquilizarem”, os insaciáveis e mafiosos mercados (sempre sedentos de mais e mais sangue).
. O caminho para o desfecho de 6 de Abril e da entrega da tutela do país, ao FMI e ao BCE – à meses que vinha a ser traçado e percorrido (apesar dos “avisos” e posições de uns poucos “radicais” e “irresponsáveis” …)
- Quanto às conclusões acerca da ausência na reunião com a troika – tenho a dizer que concordei com a posição tomada pelo B E. No essencial, por se recusar em participar na construção duma farsa “negocial”, assim como na tomada da posição pública, no sentido de afirmar (e esclarecer), a inexistência de qualquer processo negocial.
. Quanto à questão de saber se a ida do B E, tivesse feito ganhar alguns votos (ou não os perder), ou, talvez, eleger (sei lá...) mais 1 deputado, ou então se faria o BE ganhar alguns votos, mas por outro lado perder outros … - não sei, limito-me a afirmar que desconheço a resposta a tais perguntas …
6 - “Os resultados das últimas eleições foram o último aviso dos eleitores do Bloco”
. Foram?
- “Ou o Bloco quer fazer a diferença e tem uma estratégia coerente para que isso aconteça ou perderá ainda mais eleitores.”.
. Há de facto quem seja particularmente dotado e dado a especulações, a conjecturas e a meras divagações (embora esta última afirmação, citada, pareça demasiado vaga).
. A questão do resultado das últimas eleições, e das circunstâncias em que estas decorreram – não permitem conclusões simplistas, nem lineares das do tipo acima apresentadas – justificam, só por si um (longo) artigo, que, certamente surgirá.
. No entanto, apresento algumas pistas:
.. A multiplicação de mensagens, logo após o pedido de resgate, que associvam o futuro governo, ora ao PS, PSD e CDS, ora ao PS e PSD (dou 1 exemplo – o Diário Económico de 16 de
Maio (antes sequer do início da campanha), apresenta no frontispício (na 1ª pág.), 3 notícias, ou caixas, que preenchem toda a página;
.. No topo, como título “Líderes do PSD, CDS e PS debatem como 'governar Portugal'”, ladeada pelas fotografias dos 3 líderes – ocupando toda a largura da página,
.. No final da página uma entrevista com Daniel Bessa (sempre os mesmos – que se multiplicam em entrevistas, comentários – pelos jornais, todos os canais televisivos e rádios), com a frase “A solução que prefiro é a de um governo com os 3 partidos”, também ladeada por uma fotografia deste – ocupando quase toda a largura da página,
.. A meio do jornal, em letras garrafais, ocupando, também toda a largura da página “Troika vem a Lisboa para aprovar programa do próximo governo”, seguindo-se “Depois das eleições legislativas, vem a Lisboa uma equipa da 'troika' para garantir que o programa de Governo cumpre as metas fixadas e definir o corte na taxa social única”,
.. A seguir, ocupando a 2ª e a 3ª páginas - na totalidade – a mesma notícia do topo da 1ª página (pág.) - acompanhada das 3 fotografias, de Sócrates, P. Portas e P. Coelho, com cerca de 20cmX15cm cada uma.
.. Na pág. 5, no Editorial, lê-se “Se tudo correr bem ...” (…) “o pacote de ajuda [sempre a palavra ajuda – será por acaso?] lá chegará mesmo a tempo de evitar a bancarrota.”.
. Multiplique-se estas mensagens por largas dezenas (em doses diárias).
. Acrescente-se as centenas de telejornais (4 + 3 canais), a abrir a falar na “ajuda” externa, seguida das, infindáveis, entrevistas e comentários, a falar, a apelar, “à união nacional”, “à unidade nacional”, à “responsabilidade nacional” e dos partidos - “não é tempo de divergências”, etc, etc,
. A vassalagem e a jenuflexão nacionais …
. etc, etc,
. Pode-se ficar com uma ideia da maciça, esmagadora, campanha de propaganda do regime
. Nunca o condicionamento deve ter sido tão avassalador,
. O Regime não brinca é profissional e conta com legiões de profissionais (activos e passivos) …
. Quem assinou o acordo da troika passou a fazer parte da “solução” e quem não assinou passou a fazer parte do “problema” … - TUDO FOI INVERTIDO …
. A possibilidade da apresentação de alternativas desapareceu ..
. De repente quem não assinou o acordo da troika – PASSOU A SER INÚTIL …
. Restava-nos a INUTILIDADE... - Fomos condenados à INUTILIDADE …
. Quase nada ou nada podíamos fazer …
. Muito mais haverá a dizer de todo este processo e as oportunidades, certamente surgirão …
(Continuando)
7 - “... mas que quer um Bloco disponível para soluções de poder.”.
. Talvez devêsse ser dito – quais (soluções)? - em concreto.
. A questão do “poder” ou das “soluções de poder” - creio ser – uma das mais armadilhadas questões (colocadas ao B E, pela imprensa ou outros),
. Pergunto: o BE obteve 20%, 30%,ou 40% dos votos – e negou-se a ir para o poder?,
. Não!
. Afirmo, achar, que a questão do poder, só se coloca nessas circunstâncias (ou equivalentes)...
. É sabido que este, juntamente com o fim (mais ou menos próximo) do BE é 1 dos temas preferidos da imprensa e seus comentadores (acerca do Bloco de Esquerda, entenda-se),
. É também sabido que muitos dos que colocam esta questão, defendem que a “posição”, do BE, é, ou deve ser, entre o PC e o PS.
. E que muitos defendem que a tal “solução de poder” - não é senão, uma aliança com o PS. As perguntas (são recorrentes), repetem-se, com uma frequência quase metronómica; “estão dispostos a solucionar ou a viabilizar um governo do (ou com o) PS?,
. Não? - É por causa do Sócrates? (ou outro). E, sem o Sócrates?. E com outro PS?
. São conhecidas estas perguntas. Embora, por vezes, parecerem ser mais – propostas.
8 - “Foi essa esperança [do poder] que levou o Bloco aos dez por cento e que o poderia ter levado ainda mais longe.”
. Mais uma leitura tendenciosa …
. Pois, eu, acho que não!,
. Que o que levou o BE aos 10% (em 2009), foi;
.. A justeza das suas posições,
.. Foi, afirmando-se como um partido de causas, 1 partido de valores – lembram-se?
.. E por o fazer com imaginação e com criatividade,
. Foi assim até 2009 (à VI Convenção, e às penúltimas legislativas) – Em que o BE obteve os tais 10%, e alcançou 16 deputados,
. Até essa data, o BE era um partido de (ou que tinha como principal lema...) valores e de causas …
. Eu diria, que, só depois destes resultados, é que a ideia do “poder” começa a surgir com mais frequência, em intervenções ou debates (ora despoletado pelos media ora por membros do BE),
. Por projecção dum desejo ou duma aspiração, ou por outros motivos – Eu arriscaria afirmar que é a partir daí que vários “problemas” começam (e se desenvolvem),
. Arriscaria afirmar, ainda, que enquanto as principais mensagens eram as de defesa de valores e de causas, não se colocando a questão do poder (não pretendo com isto afirmar que a luta por causas e valores tivesse deixado de existir – pelo contrário - mas acho que teve lugar uma certa descentralização, nos discursos e nas prioridades) – as posições do B E, assim como o seu crescimento, foram mais consistentes (é bastante esta a minha sensação – uma mera opinião),
. Parece-me mesmo legítimo afirmar que foi precisamente porque o BE não falou de poder, nem de “soluções de poder” - sendo, e, afirmando-se como 1 partido de : ideias, de causas, de propostas (de justiça económica e social), de iniciativas, imaginação e criatividade – que atraiu, simpatias e empatias.
. Surgindo com uma postura, não habitual, diferente das existentes,
. Baseando-me no texto em consideração diria que foi esta a “esperança que levou o Bloco aos 10%”
9 - Depois surge o diagnóstico da “morte certa” – parecendo quase uma intimidação, um fantasma (ou então parece mera conjectura inocente …).
10 - Fala-se ainda dos “dirigentes perceberem o recado dos eleitores”. - (Tentando) gracejar, diria que este tipo de “frases feitas” - comuns nos comentários mediáticos – é frequentemente vazia ou oca.