terça-feira, 27 de maio de 2014

"Agência noticiosa" ...






Salário mínimo nacional (SMN)  (salário real; conjunto de bens e serviços que podem ser adquiridos com o salário - ou poder de compra ...) em 2014 inferior ao SMN (salário real) de 1974 (ano em que foi criado - pós 25 de Abril) ...


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(Divulgação)



14 de abril de 2014

Raquel Albuquerque e Rosa Pedroso Lima (texto) e Sofia Miguel Rosa (infografia)




Salário mínimo mais baixo do que em 1974






Quando há 40 anos o salário mínimo nacional (SMN) foi criado, o valor ficou fixado em 3300 escudos, que correspondia a €548, a valores de 2013. Tinha como objetivo "abrir caminho para a satisfação de justas e prementes aspirações das classes trabalhadoras e dinamizar a atividade económica", lia-se no decreto-lei de maio de 1974, aprovado durante o Governo de Palma Carlos.

Hoje, o seu valor é de €485, estando €63 abaixo do valor real de 1974, com base na aplicação da taxa de inflação anual e da base de dados macroeconómicos da Comissão Europeia (AMECO), fixada a partir do ano de 2005 e que o Expresso ajustou para 2013. A taxa foi aplicada aos valores nominais do salário mínimo, retirados da Pordata.

Ao longo do tempo, o SMN foi perdendo valor real. O ponto mais alto deu-se no Governo de Vasco Gonçalves, quando em 1975 o salário chegou a €577 (eram 4000 escudos). Pelo contrário, foi com José Sócrates que se conseguiu o maior aumento (€30 de uma vez). Entre 2005 e 2011, o aumento foi de €63, registando-se então o último aumento nominal do SMN, de 2010 para 2011, passando de €475 para €485.



A evolução permite ainda concluir que foi Mário Soares quem fez o maior corte (€101 em 1976) e foi quem levou o salário mínimo ao valor mais baixo de sempre - €346 em 1984, em plena crise financeira.

SMN custa quatro milhões ao Estado

Mesmo que o SMN suba para €500 em breve, como foi admitido na semana passada pela Confederação da Indústria Portuguesa (CIP) depois de o Governo ter aberto a porta ao aumento, continuará €48 inferior ao de há 40 anos.


Quanto ao número de trabalhadores abrangidos pelo salário mínimo, não há valores certos. Segundo o Gabinete de Estratégia e Estudos do Ministério da Economia, eram 276 mil trabalhadores por conta de outrem em 2012. Os sindicatos apontam para cerca de 500 mil trabalhadores no setor privado, aos quais se somam os cerca de 20 mil funcionários públicos, apontados pelo Sindicato dos Trabalhadores da Administração Pública.


Tendo por base estes números, o aumento de €15 mensais por trabalhador custaria ao Estado €4,2 milhões. Para as empresas, o custo rondaria os €130 milhões, incluindo a taxa social única de 23,75%, suportada pelas empresas. 



(Os sublinhados são da minha responsabilidade)


- A partir de: Expresso




sábado, 17 de maio de 2014

Fim ao Império! ...






(divulgação)


QUARTA-FEIRA, 14 DE MAIO DE 2014


Temos de quebrar o silêncio: contra a guerra dos EUA

“Fora EUA!” 
“Não à guerra dos EUA!”

14/5/2014, [*] John PilgerAsia Times Online
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

                                    Harold Pinter (1930 - 2008) 


Por que toleramos a ameaça de mais uma guerra mundial, em nosso nome? Por que permitimos todas as mentiras que justificam esse risco? A escala em que somos doutrinados, escreveu Harold Pinter é:  

(...) “brilhante, inteligente, se se pode dizer, uma encenação muito bem sucedida de hipnose coletiva”, como se “os fatos jamais tivessem acontecido, mesmo que estivessem acontecendo à nossa vista”.


Todos os anos, o historiador norte-americano William Blum publica seu “sumário atualizado dos feitos da política externa dos EUA”, que mostra que, desde 1945, os EUA já tentaram derrubar mais de 50 governos, muitos dos quais democraticamente eleitos; interferiram pesadamente em eleições em 30 países; bombardearam populações civis em 30 países; usaram armas químicas e biológicas; e tentaram assassinar líderes estrangeiros.

Em muitos casos, a Grã-Bretanha trabalhou ao lado dos EUA, como colaboradora. O grau de sofrimento humano, para nem falar da criminalidade, é apagado no Ocidente, apesar de aí estarem ativos os sistemas mais avançados de comunicações e, supostamente, o jornalismo mais “livre” do planeta. É absolutamente proibido noticiar que o maior número de vítimas de ações terroristas não são “ocidentais”, mas, sim, muçulmanos.



Esse jihadismo extremo, que levou ao 11/9, foi nutrido como arma de política anglo-norte-americana (“Operação Ciclone” no Afeganistão). Em abril, o Departamento de Estado observou que, depois da campanha da Organização do Tratado do Atlântico Norte, OTAN, em 2011, “a Líbia foi convertida em paraíso seguro para terroristas”.


O nome do “nosso” inimigo mudou ao longo dos anos: de comunismo, para islamismo, mas, em geral, qualquer sociedade independente da potência ocidental, que ocupe território considerado estrategicamente relevante ou rico em recursos a saquear, é “inimigo” dos EUA e da Grã-Bretanha. Os líderes dessas nações obstrutivas são em geral varridos do mundo em ação criminosa, como os democratas Muhammad Mossadeq, no Irã e Salvador Allende, no Chile; ou são assassinados como Patrice Lumumba no Congo. E todos somos submetidos a uma campanha, conduzida mediante as estruturas do jornalismo da imprensa-empresa que conhecemos, para caricaturar e vilificar o homem da hora, seja quem for: Fidel Castro, Hugo Chavez; agora, como se vê, Vladimir Putin.

O papel de Washington na Ucrânia só é diferente nas implicações que tem para o resto do mundo. Pela primeira vez, desde os anos Reagan, os EUA estão ameaçando arrastar o mundo à guerra. Com o leste da Europa e os Bálcãs agora convertidos em entrepostos militares da OTAN, o último estado “tampão” junto às fronteiras russas está sendo detonado. Nós – o “ocidente”, tão orgulhoso de sua “civilização” e dos seus valores – estamos apoiando neonazistas, num país onde os nazistas ucranianos apoiaram Hitler.

Tendo cerebrado o golpe de fevereiro contra o governo democraticamente eleito em Kiev, Washington planejou tomar para ela a base naval russa de águas temperadas, legítima e histórica, na Crimeia. Mas o plano fracassou. Os russos defenderam-se – como sempre se defenderam contra todas as ameaças e invasões do ocidente, sempre, há quase um século. Mas o cerco militar que a OTAN tenta foi acelerado, combinado a ataques orquestrados pela CIA e pelo FBI-EUA contra russos étnicos na Ucrânia.


Se conseguirem arrastar Putin para uma guerra provocada, em defesa daqueles russos, essa função de “estado pária” será utilizada como pretexto para desencadear uma guerra de guerrilhas que a OTAN fará crescer enquanto puder, até que respingue no próprio território russo.

Putin, contudo, pôs o partido da guerra a andar em círculos, feito peru bêbado, ao procurar acomodação e acordo com Washington e com a União Europeia; e retirou seus soldados da fronteira ucraniana, conclamando os russos étnicos no leste da Ucrânia a desistir do referendo planejado, interpretado como ação de provocação. Esses falantes de russo e bilíngues – um terço da população da Ucrânia – há muito tempo procuram organizar uma federação democrática que reflita a diversidade étnica do país e que seja, simultaneamente, autônoma e independente de Moscou. A maioria deles não são nem “separatistas” nem “rebeldes”, mas cidadãos que aspiram a viver em paz e segurança na própria terra.

Como as ruínas hoje do Iraque e do Afeganistão, a Ucrânia também foi transformada em parque temático da CIA – comandado pelo diretor John Brennan em Kiev, com “unidades especiais” de CIA e FBI montando a “estrutura de segurança” que supervisiona os ataques mais selvagens contra os que se opõem, lá, ao golpe de fevereiro.

ASSISTAM AOS VÍDEOS (legendados em inglês), leiam os relatos de primeira-mão de testemunhas do massacre em Odessa, há poucos dias.






Bandidos fascistas queimaram o prédio da sede do sindicato, matado 41 pessoas que foram presas lá dentro, enquanto o prédio era incendiado. Assistam ao que fez a Polícia, parada, assistindo ao “espetáculo”. Um médico contou que tentou desesperadamente tirar as pessoas presas no prédio, “mas fui impedido por radicais nazistas ucranianos. Um deles empurrou-me com violência, gritando que, em breve, outros judeus de Odessa teriam também o mesmo destino... Não entendo por que o mundo inteiro continua em silêncio!”

Os ucranianos falantes de russo estão lutando pela vida. Quando Putin anunciou a retirada dos soldados russos da fronteira, o secretário de “defesa” da junta neonazista de Kiev – e membro fundador do partido fascista Svoboda – pôs-se a esbravejar que os “insurgentes” não arredariam pé. Em seu típico estilo orwelliano, a propaganda ocidental inverteu tudo e “noticiou” que “Moscou tenta orquestrar novos conflitos e provocações” – foram as palavras do secretário britânico de Relações Exteriores, o lastimável William Hague. Foi cinismo só comparável às grotescas “congratulações” que Obama enviou à junta neonazista, pela “notável contenção” que manifestou... depois do massacre de Odessa!


É junta ilegal e dominada por fascistas. Para Obama, foi “devidamente eleita”. O que conta – como Henry Kissinger disse certa vez, não é a verdade, mas o que alguém supõe que seja a verdade.

Nos veículos da imprensa-empresa norte-americana, a atrocidade de Odessa foi descrita como “triste” e “feia” e “uma tragédia” na qual “nacionalistas (de fato, são neonazistas) atacaram “separatistas” (de fato, eram pessoas que recolhiam assinaturas a favor de um referendo a favor da federalização da Ucrânia).

O Wall Street Journal de Rupert Murdoch culpou as vítimas: “Deadly Ukraine Fire Likely Sparked by Rebels, Government Says [“Fogo mortal iniciado pelos rebeldes, diz o governo” [“Coquetéis molotovs caíram acidentalmente sobre manifestantes”].

Na Alemanha, a propaganda foi pura guerra fria, com o Frankfurter Allgemeine Zeitung alertando os leitores contra “a guerra russa não declarada”. Para os alemães, é apenas ironia histórica que Putin seja o único líder em todo o planeta a condenar o ressurgimento do fascismo na Europa do século XXI.

Há quem repita que “o mundo mudou depois do 11/9”. Mas... o que mudou? Segundo o grande alertador-vazador Daniel Ellsberg, houve um golpe silencioso em Washington e, depois daquele dia, o país é governado por militarismo rampante. O Pentágono só faz comandar “operações especiais” – guerras secretas – em 124 países.

Em casa (nos EUA), o que se vê é miséria crescente e a morte da liberdade por hemorragia – duas consequências históricas de um estado em guerra perpétua. Acrescente-se o risco real de guerra nuclear, e a questão se impõe: por que nós, cidadãos do mundo, toleramos os EUA?

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[*] John Pilger - nasceu em Bondi na área metropolitana de Sydney, Austrália, 9 de outubro 1939. A carreira de Pilger como repórter começou em 1958; ao longo dos anos tornou-se famoso pelos artigos, livros e documentários que escreveu e/ou produziu. Apesar das tentativas de setores conservadores de desvalorizar Pilger, o seu jornalismo investigativo já mereceu vários galardões, tais como a atribuição, por duas vezes, do prêmio de Britain’s Journalist of the Year Award na área dos dos Direitos Humanos. No Reino Unido é mais conhecido pelos seus documentários, particularmente os que foram rodados no Camboja e no Timor-Leste. Trabalhou ainda como correspondente de guerra em vários conflitos, como na Guerra do Vietnam, no Camboja, no Egito, na Índia, em Bangladesh e em Biafra. Atualmente reside em Londres.



- A partir de: redecastorphoto


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Ainda Odessa - Onde foram assassinadas 46 pessoas; uma boa parte delas transformadas em tochas vivas (metade do nº total de mortes em Kiev durante os vários meses - num só dia ...):









domingo, 11 de maio de 2014

«Too Big to Jail» ... (2) por Eric Toussaint







(divulgação)



Estados Unidos: Os abusos dos bancos no setor imobiliário e as ações de despejo ilegais

“Estados Unidos: Os abusos dos bancos no setor imobiliário e as ações de despejo ilegais” é o segundo artigo da série “Os bancos e a doutrina ‘demasiado grandes para serem condenados’” de Eric Toussaint, CADTM.






Parte 1
Durante os anos 2010-2013, as autoridades dos Estados Unidos chegaram a acordo com os bancos para evitar que estes fossem condenados pela justiça no âmbito do escândalo das hipotecas e das ações ilegais de despejo[i]. Para tal, bastou que os bancos pagassem uma simples multa. Desde o início da crise, em 2006-2007, mais de 14 milhões de famílias foram despejadas de suas casas. Pelo menos 500.000 foram ilegalmente despejadas. Muitas vítimas foram apoiadas pelos movimentos sociais, nomeadamente pelo Strike Debt[ii], que reagiram organizando-se para enfrentarem os oficiais de justiça e recusarem os despejos. Milhares de queixas foram apresentadas contra os bancos.
Uma das acusações feita contra os bancos baseia-se na incapacidade de fornecerem documentação que justifique o despejo de proprietários com prestações de empréstimos em atraso. A inexistência de documentação e o grande volume de créditos desse tipo, concedidos no período antes da crise, têm levado os bancos a contratarem pessoal para assinar diariamente dezenas, mesmo centenas, de documentos, aprovando os despejos sem respeitarem os procedimentos legais (é o designadorobot signing ou «assinatura robot»)[iii]. Os bancos levaram a cabo despejos sem justificação económica ou legal em cerca de 500.000 casos (o número final pode aumentar significativamente, porque inclui os resultados de todas as investigações e denúncias realizadas). Apesar dos graves danos causados por práticas bancárias fraudulentas, a multa corresponde, nalguns casos, ao pagamento de um montante inferior a 300 dólares por família afetada[iv], e, noutros casos, atinge entre 1500 e 2000 dólares. Outras acusações feitas contra os bancos dizem respeito à venda de produtos estruturados compostos de créditos hipotecários tóxicos (mortgage backed securities), vendidos, nomeadamente, às empresas públicas de habitação (Freddie Mac e Fannie Mae).
Regresso às políticas que conduziram à crise do subprime
A administração de George W. Bush tinha feito da «sociedade de proprietários» um tema central do seu discurso político: «Estamos a criar uma sociedade de proprietários no nosso país, na qual cada vez mais americanos terão a oportunidade de abrir a porta de sua casa e dizer: “Bem-vindo à minha casa”, “Bem-vindo ao que eu possuo”»[v].
Alan Greenspan confirma, nas suas memórias, logo após o início da crise, em 2007, que havia uma estratégia política na base da atitude adotada pela Reserva Federal de apoio à política de Bush: «Eu estava bem consciente de que o abrandamento do crédito hipotecário aumentava o risco financeiro e que as ajudas à habitação exerciam um efeito distorsivo no mercado. Mas eu considerava também que o aumento do número de proprietários reforçava o apoio ao capitalismo de mercado – vasta questão. Eu achava, e ainda o acho, que os benefícios do alargamento da propriedade imobiliária individual compensavam bem o inevitável crescimento dos riscos. A proteção dos direitos de propriedade, tão essencial a uma economia de mercado, necessita da massa crítica dos proprietários para ganhar apoio político»[vi].
É também necessário mencionar, como veremos nos capítulos seguintes, que as administrações de Bill Clinton e George W. Bush tinham apoiado sistematicamente os principais bancos na sua vontade de se livrarem definitivamente das restrições que pesavam sobre eles, herdadas das medidas de disciplina bancária impostas por Roosevelt nos anos trinta[vii].
O detonador da crise foi a bolha especulativa que antes de rebentar tinha inflacionado o preço do imobiliário[viii] e levado a um aumento desproporcionado do setor da construção em relação à procura efetiva. O número de novas casas disponíveis por ano aumentou de 1,5 milhões em 2000 para 2,3 milhões em janeiro de 2006. Uma proporção crescente de novas habitações deixou de encontrar compradores, apesar das facilidades de crédito concedidas às famílias pelos bancos e do estímulo das autoridades norte-americanas.
Essa superprodução acabou por provocar uma queda brutal do preço do imobiliário. As previsões relativas às famílias que tinham adquirido hipotecas subprime[ix] foram afetadas por essa mudança de circunstâncias. De facto, nos Estados Unidos, as famílias têm a possibilidade e o costume, quando os preços do imobiliário estão em alta, de renegociar após dois ou três anos, com base numa hipoteca que valorizou o seu contrato de empréstimo inicial, a fim de obterem condições mais favoráveis, taxas mais vantajosas. Note-se que no setor dos empréstimos subprime, a taxa dos dois ou três primeiros anos era fraca e fixa, à volta de 3%, enquanto que no terceiro ou quarto ano, não apenas a taxa aumentava de forma consequente (passando a 8 ou 10%), como se tornava também variável e podia, em muitos casos, atingir facilmente 14 ou 15%.
A partir de 2006, quando os preços do imobiliário começaram a cair, as famílias que tinham recorrido aos empréstimos subprime nunca mais foram capazes de renegociar favoravelmente a sua hipoteca a fim de melhorarem as condições.
Como afirma Paul Jorion em A Crise do Capitalismo Americano, os créditos no setor subprime visavam «na realidade aliviar as economias dos infelizes que tentavam aceder ao “sonho” sem na realidade possuírem os meios financeiros para lá chegarem, estando na primeira linha a população negra e da América Latina. As combinações são numerosas, incluem desde contratos com condições escritas diferentes das acordadas verbalmente, até ofertas que visam simplesmente encurralar o candidato na falência e, em seguida, beneficiar da penhora da casa, passando pelos refinanciamentos apresentados como sendo “vantajosos”, mas com condições na realidade calamitosas»[x]
Desde o início de 2007, o não pagamento de empréstimos começou a alastrar. Entre janeiro e agosto de 2007, 84 empresas de hipotecas nos Estados Unidos abriram falência. As empresas e famílias ricas que especulavam, na fase alta, no mercado imobiliário e obtinham lucros copiosos, retiraram-se abruptamente, acelerando assim a queda dos preços. Os bancos que tinham colocado os créditos hipotecários em produtos estruturados e os vendiam em massa (nomeadamente grandes bancos europeus ávidos de rendimento) estiveram no centro da crise.
Assim, o edifício gigantesco das dívidas privadas começou a ruir com o estouro da bolha especulativa do setor imobiliário norte-americano e foi seguido por outras crises do imobiliário na Irlanda, no Reino Unido, em Espanha, em Chipre, em vários países da Europa Central e de Leste e, desde 2011-2012, na Holanda...
Vale a pena mencionar que Nicolas Sarkozy[xi], seguindo os passos de George W. Bush, convidou os franceses a endividarem-se ainda mais. Na edição de abril de 2007 da Revue Banque Sarkozy escrevia: «As famílias francesas são hoje as menos endividadas da Europa. Ora, uma economia que não se endivida suficientemente é uma economia que não acredita no futuro, que duvida dos seus ativos, que teme o amanhã. É por essa razão que eu pretendia desenvolver o crédito hipotecário destinado às famílias e que o Estado interviesse para garantir o acesso ao crédito a pessoas doentes. (...) Se o recurso à hipoteca fosse mais fácil, os bancos focalizavam-se menos na capacidade pessoal de pagamento do devedor e mais no valor do bem hipotecado.»
Pode-se imaginar o que teria acontecido se a crise do subprime não tivesse ocorrido em 2007-2008, e se, de repente, Nicolas Sarkozy continuasse a promover o modelo aplicado nos Estados Unidos...
Entre 2010 e 2013, os grandes bancos dos Estados Unidos pagaram 86 mil milhões de dólares para evitarem condenações
Entre 2010 e finais de 2013, apenas no caso dos créditos hipotecários, ocorreram 26 transações envolvendo várias autoridades dos Estados Unidos e os principais bancos do país[xii].
Todos os grandes bancos dos Estados Unidos estão envolvidos: JPMorgan, Bank of America, Citigroup, Wells Fargo, Goldman Sachs e Morgan Stanley. No total, desde 2008, aceitaram pagar cerca de 86 mil milhões de dólares para escaparem a condenações em matéria de crédito hipotecário[xiii]. O Bank of America aceitou pagar multas, no total, de aproximadamente 44 mil milhões de dólares, o JPMorgan 26,4 mil milhões de dólares, o Well Fargo 9,5 mil milhões de dólares, o Citigroup 4,7 mil milhões de dólares, o Goldman Sachs um pouco menos de mil milhões de dólares e o Morgan Stanley 330 milhões de dólares. Deve ainda acrescentar-se os honorários pagos a advogados e outras despesas. Para ter um termo de comparação, apenas em 2012, o lucro líquido de seis bancos envolvidos totalizou 59,5 mil milhões de dólares (após o pagamento das multas desse ano, claro). Saíram-se melhor em 2013. Após um desfalque nos seus lucros de 18 mil milhões dólares para fazer face às multas desse ano, os lucros líquidos subiram 21% em 2013, atingindo 74 mil milhões dólares[xiv]. Se esses seis bancos não tivessem de pagar multas, os lucros teriam ultrapassado o recorde histórico atingido em 2006 em plena bolha imobiliária! Isso mostra que essas multas apresentadas publicamente como excepcionalmente pesadas não impedem os banqueiros de brindarem com champanhe enquanto milhões de famílias são vítimas dos seus abusos.
Apesar das provas de fraude e dos abusos cometidos pelo bancos, apesar de milhões de vítimas nas classes populares, nenhuma acusação criminal foi deduzida contra os bancos, nem ninguém foi preso. Os acordos celebrados entre as autoridades e os bancos isentam estes últimos da responsabilidade de responderem financeiramente ou legalmente a acusações semelhantes às que foram deduzidas durante o período anterior[xv]. Cúmulo da ignomínia, ou como dizem os ingleses, «para juntar o insulto à injúria», Jamie Dimon, o patrão do JPMorgan, viu em 2013 o seu salário aumentar 74%, atingindo os 20 milhões dólares[xvi].

Tradução: Maria da Liberdade
Revisão: Rui Viana Pereira



[i] Ver a primeira parte da série: «Os bancos e a doutrina «demasiado grandes para serem condenados”», 9 Março 2014,http://cadtm.org/Os-bancos-e-a-nova...
[ii] Strike Debt, «United States: The Debt Resisters’ Operations Manual», 25 Março 2014, http://cadtm.org/The-Debt-Resisters...
[iii] Democracy Now, «As Wells Fargo is Accused of Fabricating Foreclosure Papers, Will Banks Keep Escaping Prosecution?», 22 Março 2014, http://cadtm.org/As-Wells-Fargo-is-...
[iv] Tyler Durden, «The Banks penalty to put robosigning behind them: 300 dollars per person», 9 Abril 2013,http://www.zerohedge.com/news/2013-...
[v] George W. Bush, 2 Outubro 2004, «Remarks at the National Association of Home Builders», Columbus, Ohio. Citado por Gaël Giraud (2013), p. 21.
[vi] Alan Greenspan, L’Age des Turbulences, Paris, JC Lattès, 2007, p. 304.
[vii] Ver Eric Toussaint, «Comment les banques et les gouvernants détruisent les garde-fous», 13 Janeiro 2014,http://cadtm.org/Comment-les-banque...
[viii] Entre 2001 e 2007, o preço do imobiliário aumentou 100 % nos Estados Unidos.
[ix] Subprime designa empréstimos hipotecários mais arriscados para o credor (mas com melhor rendimento) do que a categoria prime, especialmente por designar um certo tipo de crédito hipotecário.
[x] Paul Jorion, «Inédit: les 3 premières pages de «la crise du capitalisme américain» (2007), publicado a 23 Fevereiro 2012,http://www.pauljorion.com/blog/?p=34264
[xi] Nicolas Sarkozy, político de direita, presidiu à República francesa de 2007 a 2012.
[xii] SNL, «Timeline Credit crisis and mortgage-related settlements» http://www.ababj.com/images/Dev_SNL... consultado a 22 fevereiro 2014.
[xiii] SNL, «Credit crisis and mortgage-related settlements for select bank holding companies»http://www.ababj.com/images/Dev_SNL... consultado a 22 fevereiro 2014.
[xiv] Bloomberg, «Big Six U.S. Banks’ 2013 Profit Thwarted by Legal Costs», 9 Janeiro 2014,http://www.bloomberg.com/news/2014-... Ver também Thinkprogress, «Profits At The Biggest Banks Bounce Back To Post-Crisis Record High», 21 janeiro 2014, http://thinkprogress.org/economy/20...
[xv] Entre as vozes críticas, ler Huffingtonpost, «The Top 12 Reasons Why You Should Hate the Mortgage Settlement», 2 setembro 2012, http://www.huffingtonpost.com/yves-...
[xvi] Financial Times, «Dimon’s pay soars 74 % to $20m», 25-26 Janeiro 2014.
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Sobre o/a autor(a)

Eric Toussaint
Politólogo. Presidente do Comité para a Anulação da Dívida do Terceiro Mundo






(Os destaques, a azul, são da minha responsabilidade)



- A partir de: Esquerda.net






quinta-feira, 1 de maio de 2014

Contra a impunidade dos maiores criminosos vivos!, Contra a impunidade dos crimes do império! - Petição







Petição:



Thank Spain for Prosecuting Bush, Cheney, Rumsfeld | RootsAction.org



(divulgação)



Dear Spain: Please do what the U.S. won’t. Prosecute Torture.








A Spanish judge has just decided to proceed with a case against Bush, Cheney, and Rumsfeld. The Spanish legislature can be expected to try to block the case, unless perhaps they hear our voices loudly and clearly enough. 

We began this effort in 2011, visiting Spanish embassies, generating media and placing advertisements in Spain, and communicating our appreciation for Spanish efforts to prosecute U.S. torturers. Now we need another big push.

Please sign this letter now, and we will deliver it to Spain:(Leer en Español abajo.)




To the people of Spain 
From the people of the United States of America and allies abroad 

We are writing to thank you and to ask for your support as your courts consider cases to bring American officials to justice for the crime of torture. A Spanish judge, acting under international law, will soon decide whether to investigate U.S. officials' roles in authorizing torture. We hope you agree that such cases must go forward, despite pressure from the Obama administration to drop them. 

The organizations signing this letter represent hundreds of thousands in the American public who believe the U.S. government must be held to the same rule of law as other countries. We are profoundly disappointed that our own government refuses to prosecute former officials, despite open admissions and government documents showing that they approved torture. 

It will take a public show of support for the case to withstand pressures from Washington. WikiLeaks cables show the extremes to which U.S. officials have gone to thwart any attempt by Spain or other countries to uphold justice. We applaud the courage shown by Spanish officials who insist on giving priority to the rule of law. 

Despite earlier assertions by President Barack Obama and Attorney General Eric Holder that waterboarding is torture, former President George W. Bush has publicly stated that he authorized waterboarding and added proudly that he would do it again. In a TV interview aired on November 8, 2010, Bush said he considered waterboarding legal "because the lawyer said it was legal." Waterboarding and other forms of torture were banned by the UN Convention against Torture and Other Cruel, Inhuman or Degrading Treatment or Punishment, ratified by the United States in 1994. 

If international law is to serve any useful purpose, other countries must condemn violations "by any other nations, including those which sit here now in judgment," in the words of the chief prosecutor at Nuremberg. 

We sincerely hope that the citizens of Spain and its judiciary will dispel the notion that any country is above the law. 

Signed, 




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(Texto em espanhol)



Para el pueblo de España
De parte del pueblo de los Estados Unidos de Norte América

Os escribimos para agradeceros y pediros apoyo urgente ya que los  tribunales de vuestro país han iniciado el proceso de llevar a funcionarios estadounidenses ante la justicia por el delito de tortura. Un juez español en conformidad con el derecho internacional ha decidido investigar el papel de dignatarios estadounidenses en la autorización de prácticas de tortura. Esperamos que estéis  de acuerdo en que estos procesos judiciales deben seguir adelante a pesar de las presiones de la administración Obama para cerrarlos.

Las organizaciones que firman esta carta representan cientos de miles de personas, el público estadounidense que cree que el gobierno de los EE.UU. debe regirse dentro del mismo marco legal que el resto de países. Estamos profundamente decepcionados de que nuestro propio gobierno se niegue a procesar a ex-funcionarios a pesar de que dichos hechos fueron admitidos abiertamente y que existen documentos oficiales que prueban que se aprobó la tortura en la base militar de Guantánamo.

Es necesaria una demostración pública de apoyo para que el proceso pueda sobrepasar las presiones de Washington. Cables publicados por WikiLeaks muestran los extremos a los que las autoridades estadounidenses han llegado para frustrar cualquier intento por parte de España o de otros países para defender la justicia. Aplaudimos la valentía demostrada por los letrados españoles que insisten en dar prioridad al cumplimiento de la ley.

A pesar de las afirmaciones del presidente Barack Obama y el fiscal general Eric Holder acerca de que el "waterboarding" (submarino) es tortura, el ex-presidente George W. Bush ha declarado públicamente que él autorizó esta práctica y añadió con orgullo que lo haría de nuevo. En una entrevista en la televisión salió al aire el 8 de noviembre de 2010 Bush dijo que consideraba el submarino legal "porque el abogado dijo que era legal". El submarino y otras formas de tortura fueron prohibidos por la Convención de la ONU contra la Tortura y otros tratos o penas crueles, inhumanos o degradantes, ratificada por Estados Unidos en 1994.

Si el derecho internacional ha de tener algún propósito útil, terceros países deben condenar violaciones "cometidas por cualquier otra nación, incluidas las que están aquí presentes en este juicio" son las palabras del fiscal jefe de Nuremberg.

Esperamos sinceramente de los ciudadanos de España y su poder judicial que disipen toda noción de que algunos países están por encima de la ley.

Por favor firmar por encima

(Thank you to Dr. TR. Rojas-D for translation.)





- Texto e Petição em: RootsAction.org