- (Citando Chomsky) A forma eficaz de combater (de facto) o terrorismo é deixar de o apoiar – [e praticar] …
- Como a importância e relevância dos discursos e posições são inversamente proporcionais à sua difusão (no “civilizado” ocidente) – aqui ficam algumas (alguns) que os obedientes ,e auto-disciplinados, rafeiros enterteiners (que se dão pelo nome de “jornalistas”) estoicamente ignoram e obliteram da opinião pública ...
_________
1 – Hassan Rouhani, presidente do Irão (eleito a 15 de junho de 2013) afirmou a 17 de Fevereiro último (acerca do ISIS ou ISIL); “ Aqueles que inicialmente ajudaram esses terroristas e os financiaram, deveriam pedir desculpas perante o mundo e a história pelas suas condutas, e, aqueles que os continuam a apoiar [os mesmos que os apoiaram, financiaram, promoveram inicialmente] devem deixar de apoiar os terroristas [e o terrorismo]”
2- Discurso de Hassan Rouhani (Presidente da República Islâmica do Irã) na 69ª sessão da Assembleia Geral da ONU (a 25 de Julho de 2014)
__________
(Transcrição/tradução da intervenção, não oficial, realizada pelo pessoal da Vila Vudu - a partir de redecastorphoto)
Senhor Presidente,
Excelências,
Senhoras e Senhores,
Graças a Deus, o Senhor dos Dois
Mundos e Pregador, e que a paz esteja com nosso Profeta Maomé, sua
família e seus companheiros.
De início, quero estender minhas
sinceras congratulações por sua muito merecida eleição à
presidência dessa 69ª Sessão da Assembleia Geral. E meus
cumprimentos também a Sua Excia. Sr. Ban Ki-moon, por seus esforços.
É minha esperança sincera que a
Sessão dessa Assembleia Geral desse ano leve o mundo, na sua
situação atual crítica, um passo mais próximo da segurança e da
tranquilidade para os seres humanos – que é, claro, um dos
objetivos fundamentais da ONU.
Sr. Presidente,
Venho de uma região do mundo cujas
muitas partes ardem hoje no fogo do extremismo e dos excessos. A
Leste e a Oeste do meu país, extremistas ameaçam nossos vizinhos,
recorrem à violência e derramam sangue. Não falam todos, é
claro, uma mesma língua; não têm todos a mesma cor de pele, nem a
mesma nacionalidade; e chegaram àquela parte do mundo, o Oriente
Médio, provenientes de todo o mundo. Mas, sim, eles têm uma
mesma ideologia: “violência e extremismo”. E têm todos, também,
um único objetivo: “a destruição da civilização, gerando a
islamofobia e criando campo fértil para mais intervenções de
exércitos estrangeiros em nossa região”.
Lamento profundamente ter de dizer que
o terrorismo é hoje globalizado: “De New York a Mosul, de Damasco
a Bagdá, do mais extremo oriente ao mais extremo ocidente do mundo,
da Al-Qaeda ao Daesh”. Os extremistas do mundo se encontraram uns
os outros e conclamam: “extremistas de todo mundo uni-vos”. Mas e
nós? Estamos unidos contra os extremistas?!
O extremismo não é questão regional
com a qual só as nações de nossa região tenham de lidar: o
extremismo é uma questão global.
Alguns estados ajudaram a criar o
extremismo e hoje já não conseguem enfrentá-lo ou controlá-lo.
E atualmente os nossos povos estão pagando o preço.
O antiocidentalismo de hoje é fruto do
colonialismo de ontem.
O antiocidentalismo de hoje é reação
contra o racismo de ontem.
Algumas agências de inteligência
puseram punhais nas mãos de possessos que hoje já não poupam
ninguém. Todos os que tiveram qualquer função na criação desses
grupos terroristas e no apoio que deram a eles devem reconhecer os
próprios erros que levaram ao extremismo. Têm de pedir desculpas
não só à geração passada, mas também à geração futura.
Para combater as causas subjacentes do
terrorismo, é preciso conhecer suas raízes e fazer secar suas
fontes. O terrorismo germina onde reine a miséria, o desemprego, a
discriminação, a humilhação e a injustiça. E cresce com a
cultura da violência. Para erradicar o extremismo é preciso
distribuir desenvolvimento e justiça e corrigir as distorções
dos ensinamentos divinos postos hoje para justificar brutalidade e
crueldade. A dor é aumentada quando esses terroristas espalham
sangue e morte em nome da religião, ou degolam em nome do Islã.
O que querem é manter ocultada a
incontroversa verdade da história que se baseia nos ensinamentos de
todos os profetas divinos, de Abraão e Moisés e Jesus a Maomé (que
a Paz esteja com Ele), para os quais tirar uma única vida inocente
equivale a assassinar toda a humanidade.
Espanta-me imensamente que esses grupos
de assassinos se declarem grupo islâmico. E mais ainda me
surpreende que a imprensa-empresa ocidental, alinhada com aqueles
assassinos, repita essa mentira, repetição que provoca a ira de
todos os muçulmanos.
O povo muçulmano que todos os dias
relembra Deus como o Mais Generoso e o Mais Compassivo, e que tantas
lições de bondade e empatia aprendeu de seu Profeta, toma essa
difamação diária como parte de um projeto para disseminar a
islamofobia.
Os fracassos e erros estratégicos
do Ocidente no Oriente Médio, Ásia Central e Cáucasos converteram
essas partes do mundo em abrigo seguro para terroristas e
extremistas.
A agressão militar contra o
Afeganistão e contra o Iraque e a interferência imprópria e
indevida nos desenvolvimentos na Síria são exemplos claros da
abordagem estratégica errada no Oriente Médio.
Como abordagem não pacífica, a
agressão e a ocupação atacam a vida e os espaços de moradia e
sobrevivência de pessoas comuns; a agressão e a ocupação resultam
em consequências comportamentais e psicológicas de aversão, que
hoje se manifestam sob a forma de violência e morte no Oriente Médio
e no Norte da África, a ponto, mesmo, de atrair para lá cidadãos
de outras partes do mundo. A violência atualmente se difunde para
todos os cantos do mundo, como doença contagiosa.
Nós sempre acreditamos que a
democracia não pode ser transplantada de terras distantes;
democracia é resultado de desenvolvimento e crescimento; não é
resultado de guerra e agressão. Democracia não é item de
exportação que possa ser comercialmente exportado do
ocidente para o oriente. Numa sociedade subdesenvolvida, democracia
importada só gera governos fracos e vulneráveis.
Quando generais põem os coturnos numa
região, que não esperem ser recebidos com afeto pelos diplomatas:
quando a guerra começa, a diplomacia tende a parar. Quando a
atmosfera no Oriente Médio for de confiança e segurança, a
resposta será, também de confiança e segurança. Mas se se impõem
sanções, começa simultaneamente a implantar-se uma ira profunda
contra os sancionadores.
Os interesses dos países ocidentais em
nossa região estão associados ao reconhecimento de nossas crenças,
por aqueles países; e ao reconhecimento por eles, também, de que
nosso povo deseja governo democrático na região.
A experiência de criação da
Al-Qaeda, dos Talibã, dos modernos grupos extremistas demonstrou que
é possível servir-se de grupos extremistas como instrumento contra
estado não amistoso e, ao mesmo tempo, fingir que não se veem as
consequências de um extremismo sempre crescente. Causa grande
perplexidade que se repitam os mesmos erros, apesar das muitas
dolorosas experiências.
Relembremos que o Irã convidou todos
para um “diálogo” antes dos atos criminosos de 11 de setembro; e
que também clamamos por “um mundo contra a violência e o
extremismo” antes que eclodissem as atuais atrocidades. Talvez, no
passado, pouca gente fosse capaz de prever o incêndio que arde hoje.
Mas agora o extremismo e a violência absolutamente fora de
controle são ameaça iminente para o mundo.
É autoevidente que sem compreensão
acurada de como se geraram as condições que há hoje, jamais
encontraremos as solução certas. Hoje, mais uma vez, tenho de
alertar contra a disseminação do extremismo e o perigo imposto
pela compreensão inadequada e por qualquer abordagem errada desse
fenômeno.
O Oriente Médio anseia por
desenvolvimento e está farto de guerras. É direito natural dos
povos das terras férteis do Oriente Médio viver em paz e
prosperidade.
No passado, o colonialismo negou
esse direito a eles e, hoje, a sombra da guerra e da violência
ameaça a segurança daqueles mesmos povos.
Em nossa região há políticos
moderados e elites que gozam da confiança do povo. Não são nem
anti-Ocidente nem pró-Ocidente. Embora não esqueçam o papel que
teve o colonialismo no atrasamento de suas nações, não
esquecem que suas próprias nações são capazes de, elas mesmas,
alcançar o desenvolvimento pelo qual anseiam.
Não que absolvam o ocidente pelos seus
muitos erros e malfeitos, mas sabem ver também os próprios
fracassos. Esses homens e mulheres podem assumir posições de
liderança ativa e reunir à volta deles a confiança de suas
respectivas sociedades, e estabelecer as mais potentes coalizões
nacionais e internacionais contra a violência.
As vozes desses homens e mulheres
são as verdadeiras vozes da moderação no mundo islâmico; a fala
familiar de um afegão farto de guerras; de um iraquiano vítima do
extremismo; de um sírio horrorizado com a ação de terroristas; de
um libanês que é atormentado pela violência e pelo sectarismo.
Entendo que há erro estratégico,
se países de longe da região se autoproclamem líderes de uma ou
outra coalizão, exclusivamente para tentar proteger a própria
hegemonia na região.
Obviamente, porque a dor é velha
conhecida dos povos do Oriente, não dos que chegam de longe, a
melhor coalizão possível será a que se forme na própria região,
e que assuma sobre os próprios ombros a responsabilidade por liderar
a luta contra a violência e o terrorismo. E se outras nações do
mundo tiverem real desejo e interesse legítimo em agir contra o
terrorismo, sempre poderão acorrer e apoiar a coalizão local.
Advirto que, se não soubermos aliar
nossas forças contra o extremismo e a violência hoje, e se
fracassarmos no trabalho de alistar os povos da região para que
resistam contra o extremismo, amanhã o mundo já não será seguro
para ninguém.
Sr. Presidente,
Ano passado, tentei cumprir o papel do
meu país na realização da paz nos dois níveis, regional e
internacional, e ofereci uma proposta sobre “um mundo contra a
Violência e o Extremismo” – que mereceu apoio geral.
Na tumultuada, caótica região que é
o Oriente Médio, o Irã é uma das nações mais tranquilas, seguras
e estáveis. Mas todas as nações da região têm de manter em mente
que estamos no mesmo barco. Assim, precisamos de ampla cooperação
para tudo que tenha a ver com nossa vida social e política, e com
questões de segurança e defesa, com vistas a alcançar compreensão
durável e comum a nós todos.
Se já houvesse maior cooperação e
melhor coordenação no Oriente Médio, milhares de palestinos
inocentes não teriam tombado em Gaza, vítimas da agressão pelo
regime sionista. Entendemos que a interação e a construção de
confiança entre os estados da região é fundamentalmente essencial
para a resolução de conflitos. Apoiamos qualquer medida que promova
cooperação entre nações islâmicas para combater o extremismo, as
ameaças e a agressão e, nesse campo, estamos preparados para
cumprir nosso papel construtivo e positivo permanente.
Sr. Presidente,
As opressivas sanções impostas ao
Irã prosseguem, na sequência de erro estratégico contra
nação independente e moderada, considerado o delicado quadro
geral em nossa região. Durante o ano passado, nos engajamos no
diálogo mais transparente, para construir confiança em torno do
programa nuclear iraniano para finalidades pacíficas. Abrimos agenda
para negociações sérias e honestas, não como resultado de sanções
ou efeito de ameaças, mas porque era desejo do povo do Irã que seu
governo negociasse.
Somos de opinião que a questão
nuclear só pode ser resolvida mediante negociação, e quem
considere qualquer outra via comete erro grave. Qualquer demora que
adie um acordo final só faz aumentar os custos; não só para
prejuízo do Irã, mas também para prejuízo da economia de outras
partes envolvidas e das possibilidades de desenvolvimento e segurança
em nossa região. Ninguém deve duvidar de que concessões e acordos,
nessa questão, sempre serão feitos com vistas ao melhor interesse
de todos, sobretudo das nações da região.
As negociações nucleares entre o Irã
e o Grupo 5+1 prosseguiram, ano passado, com seriedade e otimismo de
ambas as partes. Segundo todos os observadores internacionais, a
República Islâmica do Irã cumpriu, de boa fé, todos os
compromissos que assumiu. Apesar disso, algumas das observações e
ações de nossos contrapartes criaram algumas dúvidas sobre a
determinação deles e o realismo da posição deles. Mesmo assim
esperamos ainda que as negociações em andamento levem a um acordo
final, no curto período de tempo que resta para negociar.
Estamos comprometidos a perseverar
em nosso programa nuclear para finalidades pacíficas, inclusive com
enriquecimento de urânio, e a usufruir plenamente todos os direitos
nucleares que são nossos em território iraniano, nos termos
prescritos pela lei internacional.
Estamos decididos a continuar as
negociações com nossos interlocutores em honestidade e boa fé,
baseados no respeito e na confiança mútuos, na remoção de todas
as preocupações de ambos os lados, em pés de igualdade e
reconhecidos todas as normas e princípios internacionais. Creio
que os dois lados devem manter-se aderidos à estrita implementação
dos compromissos. Evitar demandas excessivas nas negociações, por
nossos contrapartes, é pré-requisito para o sucesso das
negociações. Um acordo final sobre o programa nuclear para
finalidades pacíficas do Irã pode servir como primeiro movimento de
uma colaboração multilateral para promover segurança, paz e
desenvolvimento em nossa região e além dela.
O povo do Irã, que tem sido
submetido a pressões, especialmente nos últimos três anos,
como efeito de continuadas sanções, não pode confiar em
nenhuma cooperação de segurança entre seu próprio governo e os
que impuseram aquelas sanções e criaram tantos obstáculos contra a
satisfação das mais básicas necessidades do povo do Irã, como
comida e remédios. As sanções criarão impedimentos ainda
adicionais, no caminho de qualquer cooperação futura de longo
prazo.
O povo do Irã é devotado a alguns
princípios e valores no topo dos quais estão a independência, o
desenvolvimento e o orgulho nacional. Nosso povo avalia o
comportamento de seu governo pelos mesmos critérios. Se esse óbvio
fato nacional não é compreendidos pelos nossos parceiros
negociadores e eles cometem erros ofensas graves no processo, uma
oportunidade histórica e excepcional será desperdiçada.
Como os senhores sabem, durante as
negociações nucleares que estão em negociação nesse ano, o
governo iraniano tomou algumas iniciativas que criaram novas
condições favoráveis, que resultara, naquela fase, no Plano
Conjunto de Ação de Genebra. Estamos determinados a continuar na
nossa abordagem de construir confiança e oferecer máxima
transparência nesse processo. Se nossos interlocutores estão
igualmente motivados e são igualmente flexíveis, podemos superar o
problema e alcançar acordo duradouro, mesmo no curto tempo que nos
resta. Nesse caso, emergirá um ambiente inteiramente novo, para
cooperação nos planos regional e internacional, permitindo maior
foco em algumas questões regionais muito importantes como combater a
violência e o extremismo na região.
Chegar a um acordo nuclear final e
compreensivo com o Irã será oportunidade histórica para que o
ocidente mostre que não se opõe ao avanço e ao desenvolvimento
de outros países e não discrimina no que tenha a ver com
respeitar leis e regulações internacionais. Esse acordo pode
levar mensagem de paz e segurança, indicando que o modo pelo qual
alcançar a resolução dos conflitos é a negociação e o respeito,
nunca o conflito e a sanção.
Sr. Presidente, Senhoras e senhores,
Ano passado a grande nação do Irã
participou de amplas, calmas, importantes eleições presidenciais, e
endossou o discurso de “Antevisão, Esperança e Moderação
Prudente”. Depois das eleições, o povo do Irã apoia o seu
governo eleito nos esforços para construir o país. Enquanto alguns
dos países em torno do Irã caíram presa da guerra e dos tumultos,
o Irã permanece em segurança, estável e calmo.
A política baseada em princípios de
meu governo existe para trabalhar na direção de interações
construtivas com nossos vizinhos, baseada em mútuo respeito e com
ênfase em interesses comuns. A noção de que o Irã buscaria
controlar outros países na região é mito reposto em circulação
em anos recentes, no contexto de um projeto iranofóbico. Os que
dizem que o Irã buscaria controlar outros países carecem de
inimigos imaginados, para manter vivas as tensões e semear
divisões e conflitos e, assim, vão trabalhando para que os
recursos nacionais não sejam aplicados no desenvolvimento do nosso
país. Nós trabalhamos para pôr fim a essa iranofobia
delirante, preparando as condições para construir parcerias
estratégicas com nossos vizinhos.
Concluindo, ano passado alertei
contra a expansão da violência e do extremismo. Esse ano volto a
alertar: se a abordagem correta não for adotada para enfrentar
as questões que se veem à nossa volta, nos aproximamos ainda
mais de ter região turbulenta e tumultuada, o que terá repercussões
em todo o mundo. A solução correta para as dificuldades que há
nasce dentro da região e provê regionalmente as soluções
necessárias; com o apoio internacional, sim, mas não vinda de
fora da região.
Deus Todo Poderoso prometeu aos que
creem e cumprem bem os próprios deveres, que Ele lhes garantiria a
sucessão na autoridade sobre a terra, e que todos os medos dos
homens e mulheres seriam convertidos em paz e segurança.
Minha mais sincera esperança é que
nossa geração cumpra o seu dever e deixe um planeta mais seguro e
desenvolvido, como legado dela à próxima geração. Desejo sucesso
a todos.
Obrigado.
(Os sublinhados são da minha responsabilidade)
- A partir de: redecastorphoto
Sem comentários:
Enviar um comentário